A psiquiatra suíço-americana Elisabeth Kübler-Ross estudou o luto, processo que começa com uma perda e prossegue até a superação dela pelo indivíduo. Entre o início e o fim, algumas manifestações são muito comuns, como o estado de choque, as perturbações, as crises de choro. Também há o desespero, a hostilidade e a raiva. Tempos difíceis.
É verdade que cada pessoa reage de uma forma diante do luto e tudo depende da estrutura emocional de cada ser, construída por meio de vivências, mas especialmente da capacidade para lidar com as perdas. Por isso, a duração do luto varia para cada um de nós.
Elisabeth Kübler-Ross dividiu essa fase em cinco estágios. O primeiro é o da negação. Ele funciona como um escudo protetor para que o sujeito se acostume com a situação aos poucos.
Mas logo na sequência acontece o segundo estágio, da raiva. Ele surge quando não é mais possível negar o fato e há o sentimento de revolta, de inveja, de ressentimento. Essa raiva é expressa pelo sentimento de inconformismo.
O segundo estágio pode durar mais até que se atinja o terceiro estágio, da barganha, quando o indivíduo começa a ter esperanças de reverter a perda por causa dos méritos que ele julga ter ou de ações futuras, que ele promete empreender. Em vão.
Então chega o quarto estágio, da depressão, com direito a tristeza e solidão. Nesse momento, é preciso uma intervenção externa para ajudar a superar as angústias e as ansiedades. Só depois é possível atingir o próximo estágio, a aceitação.
O quinto estágio é o momento em que as pessoas aceitam a nova condição e contemplam a situação com mais tranquilidade e menos expectativa. É quando se tem mais condições de (re)organizar a vida.
Há um sentimento comum em todos os estágios do luto: a esperança. E é preciso que ela exista, afinal a ausência dela é o prenúncio do fim.


Escrevo sobre o luto hoje porque pensei muito sobre ele ao analisar as ações que ocorreram no Brasil após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, novo presidente do Brasil, eleito no último dia 30.


Parte dos eleitores do atual presidente, Jair Bolsonaro, derrotado nas urnas, estão de luto. Vivenciaram o primeiro estágio, a negação, ainda na noite de domingo, durante as apurações.
Nos últimos dias, no entanto, parecem estar no segundo estágio, o do inconformismo. Os bloqueios e interdições nas rodovias, promovido por eles, impedindo o direito de ir e vir dos demais cidadãos brasileiros são uma clara demonstração dessa etapa.
E ainda será preciso algum tempo (tomara que não muito) para que esses bolsonaristas cheguem ao quinto estágio do luto, quando poderão ajudar a direita a se reorganizar para disputar, democraticamente, as próximas eleições. Afinal, a democracia se alimenta mesmo da alternância de poder.
Que o quinto estágio do luto pelas eleições presidenciais de 2022 chegue rapidamente para que possamos, todos, reconstruir o Brasil. Paz.

Ayne Regina Gonçalves da Silva (É jalesense. Jornalista com mestrado em Comunicação e Semiótica. Professora especializada em Metodologia Didática. Franqueada da Damásio Educacional em Araçatuba e Birigui)

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