Uma colega, diretora de escola pública, comentava comigo recentemente sobre a falta de ambição dos alunos do ensino médio que ela notou na transferência dela da capital para o interior.
Ela me disse que em São Paulo, onde atuava, era muito comum conviver com estudantes de baixíssima renda que se planejavam para estudar, passar no vestibular, fazer um curso superior, melhorar de vida e ajudar financeiramente a família.
Logo que chegou transferida para o interior, percebeu que a característica do adolescente daqui é, seja por falta de informações ou imediatismo, terminar o ensino médio de qualquer jeito e arrumar um subemprego sem se preocupar com o futuro.
Ou seja, será um trabalhador, geralmente aquele do tipo faz-tudo, mas não sabe nada específico, braçal, pouco valorizado, com salários baixos.
Minha colega traduziu esse comportamento como falta de ambição. Disse: “para eles está bom arrumar emprego rápido e ganhar pouco. Eles resolvem o problema do momento, mas não sabem que arrumam um problema maior para a vida toda”. Concordo com ela.
Essa falta de ambição na maioria dos jovens estudantes do ensino médio, especialmente nas escolas públicas, é um dos fatores responsáveis pela criação da “Nem Nem”, jovens que nem estudam e nem trabalham.
Trata-se de um ciclo vicioso. Saem da escola para trabalhar, mas porque não se especializam não se sustentam no mercado de trabalho. Quando demitidos, ou seja, sem trabalho, também não conseguem se sustentar para continuar os estudos.
No auge da pandemia, 34,2% de jovens brasileiros entre 18 e 24 anos compunham o grupo da geração Nem Nem. Atualmente são 31%, mas o número continua assustador.
Como educadores, temos uma responsabilidade social urgente. Ensinar esperança para esses jovens. Mostrar que ter ambição profissional é positivo. Precisamos fazê-los acreditar que só o conhecimento melhorará as oportunidades de emprego e o salário.
Eles precisam conhecer as faculdades de tecnologia (Fatec) com excelentes cursos e gratuita. Precisam saber sobre os institutos federais, com cursos também gratuitos, de excelência, com várias oportunidades de trabalho melhor.
Precisam conhecer os cursos de instituições como o Senac e ainda saber mais sobre as políticas públicas de financiamento governamental como Prouni e Fies, por meio dos quais eles pagam a dívida depois de formados.
Precisamos falar para todos esses estudantes que mesmo faculdades particulares podem manter políticas próprias de financiamentos, é importante buscar informações sobre essas instituições.
Mas é possível estudar bem sem financiamento também. Existe uma “guerra de preços” de mensalidades entre as instituições privadas e cursos que já custaram perto de 1 mil reais mensais estão sendo ofertados até por 300 reais ao mês.
Nas escolas de educação a distância (EaD) há cursos a partir de 50 reais mensais, menos, às vezes, do que uma saída à noite no fim de semana com os amigos, para alguns.
E há outras novidades. Se no passado os cursos tinham 4 ou 5 anos de duração, hoje há graduações de apenas 2 anos sendo que a partir do primeiro ano, o aluno tem condições inclusive de abrir seu próprio negócio.
Ou seja, oportunidades não faltam. Faltam informações. Falta incentivo. Falta planejamento. E é papel das escolas, sim, ajudar esses adolescentes na busca profissional.
Como disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião com os reitores dos institutos federais e das universidades públicas essa semana, para o Brasil deixar a condição eterna de “país em desenvolvimento” e passar a ser chamado de “país desenvolvido” precisamos, todos, lutar pela Educação.