A história da humanidade sempre foi marcada pela violação dos direitos humanos. Escravidão, racismo, torturas, genocídios são alguns exemplos de violências que assolam o mundo desde um passado muito distante e que persistem nos dias atuais.
É verdade que a luta contra todas essas opressões também vem ganhando espaço desde quando algumas palavras – como liberdade, igualdade e fraternidade – passaram a ser ideais. Mas a batalha é dura. E, às vezes, perdida, como aconteceu em 2010 quando a FIFA escolheu o Catar para sediar uma Copa do Mundo de Futebol.
O Catar é um país rico, mas com uma sociedade que sofre muito com o tratamento dado às minorias, como mulheres, membros da comunidade LGBTQIA+, trabalhadores imigrantes e, claro, jornalistas (porque um país que fere tanto os direitos humanos não quer que as notícias se espalhem).
Só para se ter uma ideia do que estamos tratando aqui, a mais escandalosa violação dos direitos humanos nessa Copa ocorreu com os milhares de trabalhadores imigrantes que, ao entrarem no país, tinham seus passaportes retidos, eram obrigados a trabalhar no verão desértico (45 graus) e só poderiam deixar as obras quando elas estivessem concluídas.
Resultado: Segundo um relatório da Anistia Internacional, Organização das Nações Unidas, 15.021 trabalhadores morreram na construção dos estádios e edifícios necessários para o evento. Entretanto, há, ainda, as chibatadas e prisões para mulheres nas ruas sem autorização de homens, ou casais homossexuais, entre outras violações dos direitos humanos.
Esses foram alguns fatores que levaram países, delegações, seleções e jogadores a uma série de ações de protestos e a Copa do Mundo de Futebol no Catar, iniciada no último domingo, dia 20, além do show de bola nos gramados está impactando o mundo com cenas inéditas provando que o futebol também é político.
A Dinamarca optou por um uniforme monocromático, sem o símbolo da Federação Dinamarquesa. A justifica é: “não estar visível durante o torneio que custou a vida de milhares de pessoas”.
Os jogadores alemães também se posicionaram. Na foto oficial da equipe, todos estão de bocas tampadas pelas mãos, uma severa crítica contra a Fifa, que não permitiu o uso da braçadeira “One Love”, com as cores do arco-íris, a favor dos membros do grupo LGBTQIA+. Em nota oficial, a Federação Alemã declarou: “Queríamos usar nossa braçadeira de capitão para defender a diversidade e o respeito mútuo”.
Os iranianos não cantaram o hino do seu país por discordarem da repressão a que estão submetidos, inclusive agora quando forças policiais já mataram mais de 400 pessoas que continuam protestando contra a morte de uma mulher pela Polícia do Comportamento por estar supostamente usando o véu sobre a cabeça de maneira inapropriada, mostrando um pouco mais de cabelo do que o desejado por eles.
Os jogadores ingleses se ajoelharam antes da partida em protesto contra o racismo. E até o País de Gales não se manteve neutro. Pendurou a bandeira LGBTQIA+ em seu centro de treinamento contrariando as leis do país-sede.
A seleção brasileira? Não se manifestou. Os dirigentes continuam com a mentalidade de futebol como entretenimento, o “ópio do povo”. Particularmente acredito que é falta de mais Richarlisons no time, pessoas engajadas em causas sociais e não alienadas.
Para quem não sabe, o jogador autor dos dois gols da vitória brasileira na estreia fez campanha a favor da vacinação, é embaixador da Ciência da USP (Universidade de São Paulo), mantém uma casa de apoio aos pacientes que fazem tratamento de câncer em Barretos e apoia financeiramente um projeto social que cuida de crianças e adolescentes na sua terra natal.

Ayne Regina Gonçalves da Silva
(É jalesense. Jornalista com mestrado em Comunicação e Semiótica. Professora especializada em Metodologia Didática. Franqueada da Damásio Educacional em Araçatuba e Birigui)

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