Ponte rodoferroviária

fez fim de linha virar

portal de entrada para

circular nossas riquezas

Em um chuvoso e histórico 29 de maio de 1998, um sonho virava realidade, transformando o que parecia fim de linha em portal de entrada para a circulação de riquezas nacionais. Com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, era inaugurada a Ponte Rodoferroviária sobre o rio Paraná, com seus 25 pilares de concreto, sustentados por 198 tubulões cravados quatro metros em rocha, com concretagem submersa.

Depois de 28 anos de muita luta e perseverança, testemunhávamos a transição da era das balsas para o vaivém de veículos e enormes trens de carga fazendo pulsar a força do agronegócio. Estavam criadas as condições para, desde então, agilizar o escoamento da produção do Brasil central e fomentar o desenvolvimento do País, ligando os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Recordo-me que, desde os tempos de líder universitário, nos mobilizávamos em defesa da ponte. Em julho de 1971, representando a União Acadêmica Mahatma Gandhi, de Santa Fé do Sul, fui recebido pelo ministro dos Transportes, Mário Andreazza, a quem falei sobre a importância da obra. Nos anos seguintes, a luta viraria um marco de resistência na minha vida pública.

Ninguém faz nada sozinho, e com a ponte não foi diferente. Entre os baluartes do sonho realizado, destaco a abnegação do deputado federal Roberto Rollemberg e a figura expoente do deputado mato-grossense Vicente Vuolo. Com justiça, a propósito, eles dão nome à ponte, Rollemberg à travessia rodoviária e Vuolo à ferroviária.

Imprescindível nessa conquista foi a qualidade de visionário de Edison Freitas de Oliveira, prefeito de Jales em 1969 e mais tarde governador do Mato Grosso, além da decisiva participação da Amop, a Associação dos Municípios do Oeste Paulista. Toda mobilização, porém, não teria o mesmo efeito sem a ampla cobertura da imprensa regional, que assumiu a causa e apoiou incondicionalmente a nossa luta.

O projeto ganhou impulso em abril de 1988 com a visita do presidente José Sarney a Jales, numa festa política com a presença de oito ministros, três governadores, dezenas de deputados estaduais e federais e 150 prefeitos. O sonho da ponte subiu de patamar com a entrada em cena do empresário Olacyr Moraes, o “rei da soja”, e seu projeto de construção da Ferronorte.

Aos poucos se multiplicavam os pilares, numa parceria de investimentos entre São Paulo e o Governo Federal. No início de 1992, o canteiro de obras tinha 720 funcionários, subindo para 1.500 em abril. Enquanto isso, na condição de deputado federal, eu fazia via-sacra por gabinetes de ministérios e junto aos colegas parlamentares para evitar que a obra fosse paralisada.

Nas centenas de tentativas de convencimento, levamos muitos líderes para passear no barco Professorinha, no rio Paraná, e mostrar o local onde seria construída a ponte. Era o esforço de todos aqueles que sabiam o quanto a obra era fundamental. Em maio de 1998, enfim, estava concretizado um sonho antigo, há anos compartilhado por moradores, agropecuaristas, motoristas de carros, caminhões e ônibus acostumados a fazer filas nas balsas.

No palco da inauguração, pude ouvir Fernando Henrique dizer: “O Edinho certamente está se recordando dos dias em que sonhávamos com a ponte, porque há muitos anos estamos conversando sobre essa obra, comparável a poucas no mundo”. As portas do progresso estavam escancaradas. De fim de linha do Estado, a ponte passou a ser portal do escoamento de riquezas brasileiras.

  • EDINHO ARAÚJO (Prefeito de São José do Rio Preto e presidente da Região Metropolitana do Noroeste Paulista)

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