As chamadas revisões sistemáticas e metanálises são os tipos de estudo de maior credibilidade para as ciências médicas, e a Sociedade Europeia de Cardiologia publicou justamente uma metanálise e revisão sistemática (doi.org/10.1093/eurjpc/zwab220) que pesquisou os males que o tempo prolongado diante da TV pode causar à saúde. Os autores concluíram que passar grandes períodos assistindo aos programas preferidos são prejudiciais ao sistema cardiovascular. E isso acontece porque ficamos sem movimentar satisfatoriamente nossas pernas, aumentando o risco de desenvolvermos trombose nos membros inferiores.
As publicações científicas verdadeiramente relevantes são específicas e não permitem nenhuma extrapolação. Ainda que essa pesquisa em específico nos deixe tentados a forçar uma associação dos prejuízos à saúde com a qualidade dos programas exibidos, não teríamos essa autorização. Esse estudo, nos dá, sim, uma certa comichão, um desejo de a dizer que a culpa é do BBB, do programa do Ratinho ou dos “Datenescos” e sanguinolentos vespertinos. Infelizmente não é assim que funciona. Se fosse possível cometer essa associação, por que não estender esses prejuízos à saúde às outras mídias, principalmente o facebook?
Talvez isso explicasse o desrespeito que campeia aquele aplicativo em forma de textões. Quando alguém utiliza a plataforma para expressar suas opiniões, há uma imediata reação que não poupa a honra, o currículo e nem a integridade de ninguém. Nesta rede social, a regra para o contraditório é fazer ataques pessoais baixos, vis e mesquinhos. O objetivo claro é fazer calar não pela discussão de ideias, mas pelas ofensas e pelo ódio, sem nenhum esboço de respeito ao outro.
Um exemplo infeliz desse tipo de ocorrência é o que se observa com um dos mais brilhantes professores da não menos excelente Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, uma das escolas expoentes do Ensino Médico e da pesquisa no Brasil. Essa personalidade, do alto de seus sessenta anos de prática médica dentro da cardiologia (51 deles ostentando o título de Doutor conferido pela Escola Paulista de Medicina), tem frequentado a rede social com coragem e altivez defendendo seu ponto de vista e exercendo sua cidadania. Nem sua experiência de 26 anos como Chefe de Departamento de Pós Graduação, suas dezenas de trabalhos publicados em periódicos reconhecidos internacionalmente, seus sete prêmios conferidos por entidades civis e de classe, suas dezenas de trabalhos publicados em anais de congressos nacionais e internacionais, suas fluência em três idiomas, suas participações em bancas de trabalhos de conclusão de mestrado e doutorado, nem tampouco todo o restante de suas 39 páginas de currículo compiladas na plataforma Lattes, têm-no poupado de comentários rasos e humilhantes na sua página de Facebook, onde mantém lúcida e crítica presença.
Esse texto é dedicado à coragem do Professor José Paulo Cipullo. Seu reconhecimento da parte da Alta Cardiologia do Brasil é patente e deveria ser observado por onde quer que circulasse, com igual reverência. Nós, seus amigos, continuaremos dedicando a ele toda o carinho e agradecimento pelo tanto que fez pelo ensino da medicina deste país tão pobre de respeito.

Esse texto é dedicado à coragem do Professor José Paulo Cipullo. Seu reconhecimento da parte da Alta Cardiologia do Brasil é patente e deveria ser observado por onde quer que circulasse, com igual reverência

 

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