MEDICINA/EVIDÊNCIA

Temos contado uma mentira digna de Goebbels, que é a de repetir mil vezes que a jabuticaba só nasce no Brasil. O caminho mais seguro para sabermos o que é verdadeiramente exclusivo do nosso país e, assim, não corrermos o risco de tornarmo-nos o tiozão do zap que dissemina bobagens a rodo, o ideal é perguntar para um estrangeiro o que ele acha. E foi justamente o que fizeram no ano de 1957, ao perguntarem para o correspondente do jornal L’Equipe, o jornalista francês Gabriel Hannot, que cobria a preparação brasileira para a Copa de 58 que aconteceria no Suécia, o que tinha descoberto no Brasil. Sem pestanejar ele respondeu: – “Maracujá e Garrincha”.
E sobre o craque que desbancou o maior jogador da época, Nilton Santos, então zagueiro titular do então imbatível Botafogo do Rio – equivalente do nosso Palmeiras de hoje – o grande Gérson, popular “canhotinha de ouro”, contou do drible que levou do Mané: “Ele fez que ia pela direita duas vezes e não foi. Escolheu ir justamente por onde seria impossível, que era a minha esquerda, e me deixou plantado”. Garrincha tinha essa característica marcante, a de enganar seus adversários, facilitado pelas suas características físicas. O que em outra pessoa poderia ser uma limitação, para ele era um grande trunfo. Possuía duplo geno varum, deformidade que confere às pernas grande desvio do eixo para fora. Popularmente tinha as pernas tortas.
Mané Garrincha, com atestado de exclusividade da terra brasilis, colocava seus adversários literalmente no chão ao insinuar ir para um lado e sair em arranque inigualável para o lado oposto. Todo o resto é lenda. Contudo, o gênio de Pau Grande (sem nenhuma referência oculta a outras particularidades anatômicas, pois Pau Grande é apenas o nome do distrito em que nasceu, hoje município de Magé, no Rio de Janeiro) não detém exclusividade no que se refere a enganar, que no caso dele era sua maior virtude.

Existe muita enganação de sentido literal no campo da medicina.
Os maiores exemplos dessa esperteza vêm dos conhecidos “suplementos”, os quais fazem sucesso nos programas vespertinos de vários canais de televisão.

Ao classifica-los como suplementos, e não como medicamentos, está dada a permissão para driblar, no mau sentido, a vigilância. Os componentes dessa categoria não têm necessidade de registro na ANVISA, ao contrário do que acontece com remédios regulares. Temos vários exemplos para ilustrar o filão, como as vitaminas, o ômega três, a cartilagem de tubarão e tantas outras bobagens que podem produzir vários prejuízos à saúde enquanto geram grandes lucros financeiros aos seus produtores. Quando uma fórmula escapa do controle do órgão regulador, as portas se abrem para quem queira levar vantagem. O atual presidente da República sancionou no último dia 22 de março uma lei que permite ao SUS receitar e aplicar medicamentos que tenham uso distinto daquele aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, abrindo a porteira para malversações.
Tem gente que vê Neymar em campo e acha que aquilo é futebol, e quem teve a oportunidade de conhecer Juscelino Kubitschek têm saudade do tempo em que se via um Presidente da República na TV.
(Não! Eu não sou eleitor do Lula, nem socialista, nem comunista).

  • Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Mestre em Medicina pela FAMERP, Preceptor e Médico do Ambulatório de Hipertensão do Departamento de Clínica Médica da FAMERP, São José do Rio Preto)

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