MEDICINA/EVIDÊNCIA
O pior chato não é quem cutuca, como cantou Oswaldo Montenegro (“Ah, todo chato é bonzinho / nunca nos faz nenhum mal / ah, todo chato é calminho”). O verdadeiro representante da espécie é aquele que concorda com tudo e mantém o olhar embaciado pela ignorância, seja pela sabujice, ou pelas duas coisas. Danuza Leão não era chata, puxa-saco e nem muito menos ignorante. Desde sempre ela foi versada em civilização, em conversa polida e na arte da boa educação, que manda não interromper o interlocutor. Na alta roda é um pecado mortal não deixar o outro concluir seu pensamento, uma infração tão grave quanto palitar os dentes (e, se o fizer tapando a boca com a outra mão, o caminho para o inferno é ladeira a baixo).
Quem não estiver conversando com o rei da Inglaterra, tem a obrigação de o fazer olhando nos olhos. Da mesma forma, não se estica aquela mão meio-paralítica, meio-boba quando se vai cumprimentar um coleguinha. Ou será que já inventaram um novo imposto para quem tem pegada? Esse povo está a um patamar acima da chatice, mas não passou na prova da evolução do gênero humano. Talvez façam parte de alguma manada de Bonobos ou Gorilas, que abaixam a cabeça e esticam a mão com a palma voltada para baixo em sinal de subserviência ao mais forte. A tese de doutoramento em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP da Dr.a Elizabeth Leone Gandini Romero (O gesto como imagem e a imagem como gesto: a gestualidade das mãos na comunicação) aborda este assunto relembrando que as mãos fazem parte do desenvolvimento:
“Como primata e mamífero, o homem enfrenta o desafio da sobrevivência física e precisa, por longo tempo, das mãos da mãe”.
Nosso desafio está em levar o estreitamento de relações e a cordialidade à uma praga que é filha da praga. A praga do coronavírus gestou a praga da vídeo conferência, que – sob a pretensão de aproximar – acabou enganando todos nós. Estamos dependentes das câmeras, que não transmitem calor, nem conseguem captar a amplitude dos gestos. Tomara que a gente não desista e nem se esqueça de como era antes.
Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Mestre em Medicina pela FAMERP, Preceptor e Médico do Ambulatório de Hipertensão do Departamento de Clínica Médica da FAMERP, São José do Rio Preto)