Estamos na era das super especialidades. Se você tem um problema no olho, deve procurar o médico certo. Se for do lado direito, especialista em olho direito, se for do esquerdo, a mesma coisa para o canhoto. Mas, se for nos dois olhos ao mesmo tempo, o expert a ser consultado é o superespecialista bi ocular.
Ainda bem que próstata só tem uma, senão teríamos de passar por três especialistas antes do diagnóstico. O primeiro tocaria pra identificar o lado. O segundo conferiria, e o terceiro usaria a mesma via para – só depois do campo estar desbravado – fazer o tratamento.
Brincadeiras à parte, as super especialidades médicas já são realidade. Há pouco tempo o Dr. Rukmini Krishnaswamy tratou deste assunto em um editorial na importante revista científica “Developmental Medicine & Child Neurology”. Ele se incomodou com a transformação da neurologia pediátrica na Índia (quem quiser saber mais, basta procurar Dev Med Child Neurol. 2022 Nov;64(11):1314). Necessária, mas exagerada ao mesmo tempo.
A idade já é por si mesma pródiga em nos fazer especialistas em vários assuntos. Depois dos cinquenta temos capacidade de diagnosticar muitas coisas. Saber reconhecer as diferenças entre o puxa-saco e o falsão é uma dessas habilidades. O puxa-saco é aquele camarada provido de um dom. Já nasce assim. Não precisou frequentar nenhuma escola para ser versado na arte de babar o ovo.
Este profissional dos ovos é um artista. Nem se deixar perceber. Ele vai rodeando, rodeando, até incensar completamente o seu alvo e colocá-lo na posição de santo, herói, ou as duas coisas juntas. Já o falsão é diferente. Tem um olhar denunciador. Bajula sua vítima usando palavras fortes, tipo excelência, o fodão, doutor, professor ou outros títulos, sem conseguir disfarçar aquele desdém misturado com inveja. No canto dos olhos carrega faíscas e tem a fala molhada pelo próprio veneno. Não tem o savoire faire, nem aquele je ne sais quoi do puxa-saco.
O falsão zomba, enquanto o puxa-saco derruba seu alvo sem ele perceber. Quando este se dá conta, está todo ensanguentado no chão. O falsão típico é aquele consumidor que elogia a loja, os vendedores, a localização do estabelecimento e até o cheiro do local com a intenção óbvia de sair sem pagar, ou de ganhar um bom desconto. Já o puxa-saco se torna freguês, dá gorjeta e até faz propaganda. Quando o proprietário percebe já passou tudo para o nome dele!
Se a vida fosse um filme, o puxa-saco ganharia o Oscar, enquanto o falsão seria o crítico “construtivo”.
Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)