Se a vida é uma prova, os exames caem na segunda-feira às seis da manhã e eu que lute por atestado. Aliás, não só eu! Ninguém terá estudado o bastante e colar não é boa opção: colega do lado está pior de nota que nós. Até quem está com o burro na sombra vai experimentar uma derrota do time no domingo à tarde e na segunda será o sacaneado da vez. Viver é a tarefa mais perigosa da vida, porque as regras mudam sem avisar. Assim, sofrer é a única opção. A tristeza da vida é tão grande quanto a de não ter mais música de carnaval no próprio carnaval, ou a de deixar de ouvir Nelson Gonçalves porque as rádios não tocam mais.
Quando pensamos que as coisas estão caminhando bem, surgem os grandes problemas: – Como explicar não fazermos mais roda de um violão, se aquilo nos dava tanto prazer? – Como entender termos deixado de dançar abraçadinho pra ficar pulando em bando? – Como justificar a troca do flerte pelas mensagens nas redes sociais? (Isso é fácil. Depois dessa mudança, nunca mais quebramos a cara e nem perdemos o sono depois do “não” que as moças insistem em nos dar).
Viver não é fácil, e entender a vida é impossível. Se não fosse, como entender nossa predileção por “subestimar tudo aquilo que verdadeiramente tem valor na vida” e ainda nos perguntarmos “de que nos vale uma vida longa se ela se revela difícil e estéril em alegrias, e tão cheia de desgraças que só a morte é por nós recebida como uma libertação?”, ou – ainda – sermos criaturas capazes de apoderarmo-nos das posses alheias, humilhar o outro, causar-lhe sofrimento, torturá-lo e matá-lo. — Homo homini lupus. Quem, em face de toda sua experiência da vida e da história, terá a coragem de discutir essa asserção, como nos explicou Freud? (Sigmund Freud, in O MAL ESTAR NA CULTURA, capítulos I, III e V).
Ainda bem que não optamos por passar os dias sob a perspectiva pessimista do pai da psicanálise. Se vivêssemos daquele jeito, não conseguiríamos rir de nós mesmos, nem manter de pé a criatividade de nossa espécie, a mesma que burla as dificuldades e espera um ano ser realmente novo a cada ciclo de 365 dias. Podemos não saber as respostas, mas nossas cacholas permanecerão férteis na criação das desculpas mais esfarrapadas, enquanto houver um muro de colégio para pular. Nenhum divã será mais reconfortante do que essas sensações.
Então, se a vida realmente for uma escola, vamos fazer com ela o que deve ser feito: matar todas as aulas e escolher “a disposição para alterar o mundo, a fim de adaptá-lo a seus (nossos) desejos” como o mesmo Freud nos disse ser possível.
Dr. Manoel Paz Landim
(Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)