Muito mais do que falar, é importante saber COMO falar. A maneira como uma frase é formulada e até a entonação que damos às palavras dizem muito. Existe um significado oculto que vai muito além do ato falho, e – talvez – seja este significado quem diga mais do que o som ou os vocábulos. Existe um ramo da ciência que estuda exatamente isso, que é a Filosofia da Linguagem, que tem no filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, integrante do chamado Círculo de Viena, um de seus principais representantes.
É esse braço do saber quem afirma ser possível à linguagem mudar a realidade (aspecto construtivista), porque permite a possibilidade de ser interpretada em sentido social, não literal. Para a filosofia da linguagem, também pode haver uma visão comunitária do significado, variando conforme o uso da palavra em uma determinada comunidade. Assim, quando se pergunta a alguém “qual o seu time?”, em verdade não se está contemplando a possibilidade de não ter nenhum. A pessoa se vê obrigada a ter um ou outro, sem lhe ser dada a oportunidade de sequer gostar de esportes competitivos.
E nesta esteira ainda tem:
- Qual a sua religião? (e se a pessoa for ateia?)
- Quem pode mudar o Brasil? (e se quem tem este poder não estiver na lista de votação?)
- O que você vai ser quando crescer? (e se a criança não quiser outra coisa além de ser feliz?)
Quando se está em dúvida, ou quando uma pergunta não tem resposta, a possibilidade de manter o silêncio deveria constar também. Mas o indiscreto tem uma característica comum, que é a de não considerar nada além daquilo que lhe contente. Há pessoas de ouvidos e corações seletivos, para as quais o universo se divide entre bem e mal.
Aqueles que acreditam em sistemas fechados, com respostas absolutas, geralmente têm na estreiteza a sua esfera de visão. São os que se movem de acordo com as setas, encontrando ídolos e líderes que os representam, antes da liberdade de aceitação das diferenças.
Ou é homem, ou é mulher.
Ou é feio, ou é bonito.
Ou é alto, ou é baixo.
E assim a (não) caminha a humanidade.
Dá para saber mais. E, se alguém tiver a curiosidade, pode ler Paul L Franco (Ordinary language philosophy, explanation, and the historical turn in philosophy of Science) Stud Hist Philos Sci. 2021 Dec;90:77-85. doi: 10.1016/j.shpsa.2021.09.009.
Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Mestre em Medicina pela FAMERP, Preceptor e Médico do Ambulatório de Hipertensão do Departamento de Clínica Médica da FAMERP, São José do Rio Preto)