Ganhar na loteria e receber herança de uma tia velha e desconhecida são duas formas excelentes, mas impossíveis, de ficar rico. Fora das novelas mexicanas só as coisas ruins chegam de repente. As únicas heranças recebíveis são as doenças. Diabetes, câncer e cardiopatias são exemplos dessas certezas.
Pensando em driblar esses golpes traiçoeiros, um grupo de pesquisadores do hospital geral de Boston estudou o tabagismo, a hipertensão, o diabetes, a obesidade e a dislipidemia, doenças conhecidas por seus aspectos familiares, poderiam ser modificados e, assim, minimizar a chance de receber um presente de grego dos pais.
Esse pessoal descobriu só não existir chance de enganar a obesidade e o tabagismo. Do resto podemos ficar livres, se tivermos saco para seguir à risca a cantilena de todo médico e nutricionista, e começarmos a fazer as famosas letras mortas de todas receitas: dieta e exercícios, tão logo aprendamos a andar e tivermos dentes para mastigar.
Mesmos os não fanáticos dos dramalhões do SBT querem receber coisas boas dos parentes. E o mundo alimenta essa crença abusando dos ditos populares. Quem sai aos seus não degenera; cara de um, focinho do outro; tal pai tal filho… e por aí vai. Só na hora das brigas de casal a herança deixa de ser benvinda: Pra quem puxou esse moleque? Só pode ser pra tua raça…
Mas justamente a tal ciência – aquela mesma tantas vezes conjurada neste espaço – felizmente vem ao nosso socorro. A professora Cláudia Maria Xatara Livre-docente da UNESP-SJRP nos alerta sobre a falsidade dos provérbios afirmando “… (ele, provérbio) constitui o discurso do outro. Quem o emprega tem seu dizer invencível, pois está apoiado em uma ideia tradicional estabelecida pelo senso comum, não refutada pela coletividade”. Quando ganha as páginas da internet, então, adquirem ares de sentença judicial.
No fundo estamos cansados de assistir bons nomes de antepassados serem destruídos pela incapacidade dos descendentes de manterem a competência adquirida por anos de dedicação e trabalho do vovô.
Para saber mais sobre ao assunto, basta ler J Am Heart Assoc. 2023 Mar 21;12(6):e027881. doi: 10.1161/JAHA.122.027881. Epub 2023 Mar 9. Family History of Modifiable Risk Factors and Association With Future Cardiovascular Disease. Christy N Taylor et al; e Xatara, CM e Succi, TM, Revisitando o conceito de provérbio, VEREDAS ON LINE – ATEMÁTICA – 1/2008, P. 33-48 – PPG LINGÜÍSTICA/UFJF – JUIZ DE FORA – ISSN 1982-2243.
Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)