TALVEZ ninguém saiba qual é a hora certa de parar. A respeito disso, a mulher mais sábia do mundo, minha avó Josina, costumava dizer no seu tom goiano:
– De tanto enfeitar o filho o diabo acabou por lhe furar um olho. Em outras palavras, o coisa ruim também não soube identificar o momento de terminar a sua tarefa.
A razão para viver é renovada quando formamos novos planos e sonhamos com novos horizontes. Sem dúvida ganhamos ânimo ao alimentar a esperança, mas reconhecer a capacidade produtiva de cada época e se conformar com a sua queda natural é uma tarefa cruel, porém necessária. Se o nosso país respeitasse os indivíduos e oferecesse aposentadoria digna, esse espinho causaria menos dor. Nem sempre é possível obedecer aos limites arduamente identificados.
Sabe-se ser preciso diminuir o ritmo e até mesmo parar as atividades profissionais, mas a barriga doendo e as contas chegando fecham as portas de saída e o trabalho não vem acompanhado de prazer, diferentemente dos antigos egípcios. Aquela gente trabalhava feliz até os últimos dias porque nutriam crença de continuarem trabalhando também após a morte no mar de juncos.
Mas, os súditos dos faraós esperavam encontrar melhores condições de serviço quando os barcos solares os deixassem na morada eterna. Não deu certo pra eles, como nos provam as múmias ainda esperando a tal reencarnação, ressurreição, ou qualquer outro nome, mas ficou o exemplo de trabalhar com esperança de dias mais amenos.
Deixando as crenças de lado e focando apenas no lado material, o Brasil também deseja uma nova vida para seus contribuintes, mas uma existência irreal, onde as necessidades diminuam com o tempo. Na nossa terra, quem considere cumprida sua jornada e esteja realizado profissionalmente precisará arrumar novas fontes de renda para complementar sua pecúnia.
A ciência até tenta driblar as manhas do tempo e os lapsos naturais da velhice, embora nem sempre consiga. Recentemente foi desenvolvido um novo medicamento para azeitar a cuca do vovô, diminuindo os estragos provocados pelo Alzheimer. O tal remédio recebeu o nome de “Leqembi” e promete desacelerar a doença naqueles pacientes com quadros iniciais. Não cura e nem regride a demência, apenas retarda a evolução e tem inúmeros efeitos adversos. Custa 26.500 dólares por ano nos Estados Unidos, ou aproximadamente 132.000,00 reais, ou – ainda – 100 salários mínimos do INSS.
Vamos continuar prestando atenção e respeitando a natureza.
Dr. Manoel Paz Landim
(Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)