– Seria o lugar próprio para se queixar de dores? Ou, quem sabe, onde recebemos orientações de tratamento para nossas doenças? Ou, ainda, o habitat de um indivíduo chato e arrogante, para quem olhar nos olhos de um cliente é um exercício impossível de ser realizado, cuja preocupação maior é não perder tempo lhe ouvindo além do estritamente necessário?
– Talvez seja tudo isso e mais um pouco. Pelo menos é a minha primeira impressão quando me vejo na obrigação de procurar um médico (isso só não vale para as vezes onde o profissional é, antes de tudo, um amigo de muito tempo). Gostaria de sentir-me bem quando me oferecem o outro lado da mesa, mas não consigo.
Só tenho uma certeza: um consultório ser também um espaço de acolhimento, onde as pessoas saem aliviadas e até felizes. Isso acontece quando um amigo está ali pronto para conversar sobre os mais variados assuntos. Até sobre doença. E não importa o lado da mesa a ser ocupado.
Enquanto assistia uma senhora por causa do seu problema de coração, tive a oportunidade de conviver com todos seus familiares. Eles se tornaram também meus pacientes, mas – antes disso – encontramos laços a nos unirem. Somos amigos. Conhecendo os filhos das filhas, os genros, noras e os netos daquela antiga paciente já falecida, o natural foi deixarmos crescer uma amizade ímpar.
E foi uma amiga oriunda desse núcleo a responsável por essas reflexões de agora. Quando lhe perguntei como estava, ela me surpreendeu dizendo: – Estou me sentindo velha (antes de completar setenta anos e com uma saúde razoável). Ela me pôs a pensar nos motivos capazes de nos fazerem sentir assim. Seria a idade, as limitações de movimentos, o fato de vermos o tempo passando rápido, a combinação de tudo isso?
– Não encontrei a resposta exata, mas deixei as dúvidas povoarem a cabeça. Seria a rapidez de informações? – não, se não houver capacidade para entendê-las; justamente uma das prerrogativas da idade. Seria, então, a incapacidade de fazer o anteriormente possível? – não, se pensarmos naquilo que só conseguimos porque a idade permitiu, como – por exemplo – não precisar dar satisfação dos próprios atos. Poderia ser, quem sabe, o fato de ninguém mais nos dar atenção, ter pouca paciência conosco? – não, pois a autoridade é inerente à experiência.
Só encontrei uma resposta capaz de me deixar menos inquieto: ser velho é desistir da vida. A mesma vida doadora de dificuldades nas suas mais diferentes fases: dificuldade para começar a andar, para aprender a falar, para persistir nos estudos, para buscar um emprego e se manter nele, para ser aceito na sociedade e, a mais desafiadora das dificuldades: fazer amigos e mantê-los.
A velhice é só mais uma etapa. Os desafios, estes sim, vão crescendo sem envelhecer.
Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)