Criança é um bicho infantil, disse meu ídolo Falcão, o Rei do brega. Mas quem não tem os dotes filosóficos e nem a catilogência desse grande profeta é incapaz de entender a profundidade desse pensamento. O cara sabe muito! Sua sabedoria é difícil até para os iniciados na arte do eteceterismo.
Eles também sofrem para acompanhar o raciocínio do poeta. Muitos sujeitos letrados se perdem nos versos de I’m not dog no e nas entrelinhas da música Coração de Frango (trespassado pelo espeto do ciúme). Isso sem falar que só os grandes cornos é que secam as lágrimas escutando as suas pérolas. Falcão não é para iniciantes. Só canta “chifre é como assombração, geralmente aparece pra quem tem medo” com ele os felizardos que sofrem de dor crônica na testa.
Depois de queimar tutano, cansar meus dois neurônios e bater cabeça atrás dos meus vizinhos é que tive o arroubo e a impertinência de interpretar o postulado como significando toda criança é besta. E olhe que pra chegar a essa conclusão tive que lembrar o meu próprio passado, quando eu era ainda mais tonto do que sou hoje. Por volta dos cinco anos de idade cai no leriado (parafraseando o poeta do Ceará) de um primo meu. O espertão tinha inveja dos meus carrinhos e – pra me fazer entregar a frota pra ele – disse que a idade máxima pra brincar de caminhãozinho pelo chão era cinco anos. Se eu continuasse com aquela prática todos iriam achar que eu era bobo.
O babacão entregou todos os brinquedos e trocou as estradinhas feitas no chão de terra pelo conforto da TV. Esse seria o ideal para quem já era quase um adulto, como eu acabara de me tornar.
Com cinco anos de idade eu já estava quase apto a arrumar um emprego e ter a própria casa. Coisa de gente esperta. Compartilhar essa história hoje me provoca muita vergonha. Fico pensando como foi possível ter assinado esse atestado de burrice e o pior: ter tomado posse como o idiota da família.
Nunca mais teve pra ninguém. Nunca foi tão fácil achar o exemplo de idiotia na família. Com o agravante de não haver nenhum Einstein entre meus parentes. Meu tio mais esperto falsificava uma bebida muito popular, o FERRO QUINA FORTE, conhecido pela sigla FQF (efe que efe). Quando a polícia bateu ele tentou se safar dizendo que a sua marca não era FQF, mas FE – QUE – FE. E o pior é que ele usava até as embalagens da original. Difícil!
Só encontro um lenitivo para minha, digamos inocência, quando me deparo com gente de bastante idade, chefes de família e até membros do judiciário participando de vaquinhas para arrecadar dinheiro pra político. Todas as vezes que penso ser o exemplo de jerico neste mundo me consolo observando quem seja mais jegue do que eu.
Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)