(perdão pelo furto, Oswald de Andrade)
Minha primeira entrevista de emprego aconteceu na época da universidade e não era bem para um emprego formal, mas um estágio remunerado – de carteira assinada e tudo – em uma importante fundação de pesquisa do Rio de Janeiro.
Lembro bem das perguntas, pois, quando entramos na tal terceira idade (dizem), os acontecimentos de muitos anos atrás voltam à mente como se tivessem acabado de acontecer, num último suspiro da cachola. O recrutador perguntou qual era o meu nível de inglês e, como as aulas do colegial ainda frescas, fui logo respondendo intermediário.
Além do My name is e do the pencil is on the table eu também sabia on liga e off desliga. Isso era o bastante para me elevar à categoria de completamente versado, um quase nativo, pois até uma música eu já tinha conseguido traduzir para o português. Não é preciso dizer o resultado da entrevista. Fui reprovado, mas – tenho certeza – por discriminação, afinal de contas eu era paulista, um grande demérito na terra do xis.
Demorei um pouco mais para me convencer de ser necessário um cadinho mais de estudo para quem pretende decifrar alguns textos científicos e consegui alguma coisinha mais depois de alguns anos de estudo. E pronto! Alguma noção de outras línguas é dispensável para finalidades outras além do campo acadêmico, onde precisamos nos comunicar diariamente com colegas de outras nações e o gringuês assumiu o papel antes ocupado pelo francês e latim.
Ninguém precisa se avexar por expressar-se (BEM) em sua língua mãe. A inteligência artificial, os dispositivos eletrônicos e as passagens aéreas custando o valor de um rim estão aí para limitar a necessidade de quebrar os ossos da língua para entender e se fazer entender. O resto é esnobismo, coisa de gente metida a moderninha.
Uma pessoa dessas bandas do mundo não encontrará nada mais pernóstico quando soltar expressões como criar um link entre, não obtive feedback ou fulano é um outsider. Isso é gente tonta, antigamente conhecida também como démodé.
Infelizmente o grande Ariano Suassuna não é conhecido (embora reconhecido) por seus romances ou dramaturgia, mas por suas aulas show (ou xou). E tomamos conhecimento de suas andanças serem exclusivas a terras brasileiras, nunca tendo pisado no estrangeiro, exatamente por meio do Youtube. Apesar disso (ou por isso) ele é tão grande.
Este texto vai para uma grande amiga e por sua coragem de dizer não sei inglês e não pretendo aprender. Não gosto da língua e pronto. Parabéns pra ela.
Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto