MEDICINA/EVIDÊNCIA

A matemática é uma extensão do nosso ato de viver. Assim, ela só é difícil de entender para quem acha que a própria vida é complicada. Vamos dar alguns exemplos:
– Imaginemos um triângulo amoroso daqueles bem difíceis, composto por um marido ciumento, um Dom Juan e uma donzela muito apaixonada por ele. É exatamente o que observamos no teorema de Pitágoras (O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos).
Os dois catetos são os amantes proibidos, que têm suas paixões elevadas ao quadrado e estão a todo vapor. Seus desejos mais íntimos os obrigam a pular janelas e a se embrenharem pelos matos para se encontrarem no vértice deste triângulo. Só uma coisa os impede: a testa do marido, que é a hipotenusa dessa equação. A fronte do coitado já vem coçando há muito tempo e ele dorme com um olho aberto e outro fechado. A sua desconfiança também já se elevou ao quadrado quando percebeu que aquela dor de cabeça constante da sua esposa não se deve a nenhuma enxaqueca, nem sinusite.
Outro exemplo matemático do cotidiano é a dízima periódica.
– Podemos dividir nossos conhecimentos em partes que saciam quem os recebem. Por outro lado, quando não nos entendem, continuamos repartindo sabedoria infinitamente, sem que o recebedor se sacie. Não adianta darmos mais, pois sempre haverá um bocadinho faltando. A ignorância se perpetua.
É exatamente este o retrato da nossa ignorância frente a algumas respostas do nosso organismo. As mesmas células que são recrutadas para nos proteger, os macrófagos, estão ligadas ao desenvolvimento das placas de cálcio que se formam no interior das nossas artérias e, também, no desenvolvimento de alguns tipos de câncer. (Para saber mais, leia Linda Yaker et al. Front Cell Dev Biol. 2022 e também Neutrophil phenotypes and functions in cancer: A consensus statement de Daniela F Quail et al. J Exp Med. 2022).
Porém, o nosso endotélio pode aprender que chamar macrófagos é uma cilada. Basta que nossa consciência (vontade) quebre o ciclo vicioso da doença aterosclerótica. Quando decidimos tratar nossa hipertensão, nosso diabetes, nosso tabagismo, nosso excesso de peso e banir as outras incorporações danosas que fazemos, a resposta infinita da dízima periódica dos macrófagos vai se arredondando e interrompemos o ciclo.

  • Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Mestre em Medicina pela FAMERP, Preceptor e Médico do Ambulatório de Hipertensão do Departamento de Clínica Médica da FAMERP, São José do Rio Preto)
Para saber mais leia: “Neutrophil phenotypes and functions in cancer: A consensus statement”, de Daniela F Quail// McGill

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