MEDICINA/EVIDÊNCIA

A grande dificuldade de sucesso de um tratamento médico não é o diagnóstico, mas o convencimento do doente da necessidade de usar os remédios do modo correto. A não aderência ao tratamento das doenças crônicas chega a 50% nos países desenvolvidos, e as consequências disso são aproximadamente 125.000 mortes, 10% de hospitalizações e de 100 a 500 bilhões de dólares em custos para o sistema de saúde só americano (BMJ 2021;374:n1493) Existem vários motivos para isso, desde o custo extorsivo dos remédios, até a dificuldade de entendimento na tomada daquela multidão de caixinhas coloridas que os médicos adoram prescrever.
Os pacientes, envergonhados, costumam tentar esconder suas falhas, sem se darem conta de que nessa tentativa de enganação só eles são afetados. Os médicos dispõem de estratégias para conferir a informação, além do óbvio não controle da doença. Quem afirma, por exemplo, que está em uso correto do remédio anti-hipertensivo prescrito, mas chega à consulta com os valores de pressão nas alturas, não resiste a dois dias de internação, para que a administração supervisionada dos mesmos fármacos que deveriam ser usados em casa controla a doença como esperado desde o início.
Os fatos desmentem os argumentos e não são restritos ao campo médico. Podemos enumerar vários exemplos que justificam essa informação. Recentemente o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Sr. Pedro Guimarães, sabidamente íntimo do presidente da república, foi acusado de assédio. Sua primeira reação foi negá-la, igual acontece com os pacientes que negam falhas no uso da medicação. O executivo chegou – até mesmo – a comparecer com a esposa ao último evento que teve acesso enquanto no cargo e dizer: “Eu quero agradecer a presença de todos vocês, a minha esposa. Acho que de uma maneira muito clara… São quase 20 anos juntos, dois filhos, uma vida inteira pautada pela ética”. Difícil de acreditar. Sabe por quê?

  • Porque em seguida vieram à luz gravações feitas pelas acusadoras, onde os termos chulos, a constância de palavrões e a intimidação puderam ser ouvidas em todos os noticiários. As falas captadas são muito parecidas com outras, que já são bem conhecidas do grande público desde 22 de abril de 2020, quando, na famosa reunião ministerial em que Sérgio Moro tentou mostrar a interferência do mesmo presidente da república, o mesmo amigo íntimo de Pedro Guimarães, nos ruborizou com frases recheadas de interjeições comuns a pichações e antigas pornochanchadas da boca-do-lixo
    Na sua tentativa de defesa, presenciamos uma incrível coincidência entre os argumentos do bancário com os utilizados pelos doentes que não aderiram aos seus tratamentos. Embora aqui não haja um exame laboratorial que desminta as afirmações, estamos diante de um déjà vu indiscutível. O que poderia ser atribuído a uma coincidência, é corriqueiro nos ditos populares e até os escritos bíblicos, que enfatizam o que a falta de uma orientação e suas consequências para o futuro: “Não retires da criança a disciplina” (Provérbios 23.13-14). Será que, desta vez, “o fruto caiu longe da árvore”, ou revogaram a afirmação “Direis com quem andas e eu te direi quem és”?
Os fatos desmentem os argumentos e não são restritos ao campo médico. Recentemente o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Sr. Pedro Guimarães, foi acusado de assédio. Sua primeira reação foi negá-la // Ed Alves/CB
  • Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Mestre em Medicina pela FAMERP, Preceptor e Médico do Ambulatório de Hipertensão do Departamento de Clínica Médica da FAMERP, São José do Rio Preto)

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