MEDICINA/EVIDÊNCIA

Um reencontro de amigos pode ser uma das melhores experiências da vida. Tanto é, que no livro “O encontro Marcado”, de Fernando Sabino, o personagem Eduardo Marciano (alter ego do autor) só consegue recuperar a paz quando volta para Minas e revê seus companheiros de infância (Mauro e Hugo, que representam Hélio Pellegrino e Otto Lara Resende, amigos reais do escritor).
Embora a trama do livro não seja exatamente essa, é fácil imaginar aqueles velhos companheiros outra vez sentados nas mesmas calçadas que os acolheram quando crianças, revivendo histórias e tirando sarro um dos outros. Dá até pra ouvi-los pronunciar os apelidos, sentirem os medos que acompanharam as velhas travessuras, os traumas que temiam nunca serem superados e os segredos que, de tão bem guardados, acabaram se perdendo nas memórias.
Ali no chão as almas voltam às suas bases e rearranjam suas vidas, enquanto suas risadas ecoam dentro dos peitos saudosos dos amigos que a vida esparramou pelo mundo. Saudade, saudosismo, nostalgia, lembranças, dê-se o nome que quiser, os nichos voltam a ser ocupados. Alguém poderia supor que, em tempos de internet as pessoas estariam mais próximas. Será? – Vai depender do que se entende por estar perto. A distância só pode ser superada pelas postagens de redes sociais quando não se considera as amizades verdadeiras, aquelas que dependem do olho no olho para se fazerem valer, e do abraço apertado para mitigar a ausência.
Estamos longe (também) da (ultrapassada???) valorização dos sentimentos. Há um conformismo (mal) suprido pelas luzes dos écrans e pela insistência em substituir o afeto pelo espocar de flashes. Sem perceber, nos deixamos influenciar por um ambiente artificialmente criado, tóxico, delimitado artificialmente por um algoritmo e doentiamente restrito, onde as opiniões e os costumes encontram apenas similares. Adentramos às bolhas dos iguais e perdemos a (antiga, necessária, insubstituível e salutar) oportunidade da discussão de ideias e a convivência com contrários. Os ‘amigos’ que não falam a mesma língua são simples e sumariamente excluídos. Algo similar ao ostracismo grego, ao degredo colonial e ao exílio das ditaduras.
Inocentemente nos deixamos enganar acreditando que os antigos costumes, como o de nos reunirmos em clubes, campos de futebol, pátios das escolas, reuniões das igrejas, e até as primeiras investidas amorosas das antigas “brincadeiras dançantes” pudessem ser substituídos pelos grupos de whatsapp e permitimos à sociedade dar voltas para trás na roda da história. Perdemo-nos.
Nos primórdios da civilização os grupos populacionais precisavam se manter unidos, numa interdependência pela sobrevivência, porque os predadores tradicionais estavam sempre à espreita. Em conjunto era mais fácil vencer os tigres-de-dentes-de-sabre, ursos e lobos, que significavam um perigo real, visível, indisfarçável. Hoje os nossos predadores são mais sorrateiros e atendem pelo nome de desinformação e boatos, que – como se não bastasse – são convidados a entrar nas nossas cavernas modernas e nós ainda pagamos a conta de internet para isso.
A quantidade de notícias falsas estreou e mostrou verdadeiramente as garras até então tímidas, durante a pandemia de COVID-19 e, percebendo o terreno livre, expandiu-se para os terrenos da política. A Dr.a Samia Tasnim e seus colaboradores escreveram um brilhante artigo (Impact of Rumors and Misinformation on COVID-19 in Social Media – J Prev Med Public Health. 2020 May;53(3):171-174. doi: 10.3961/jpmph.20.094. Epub 2020 Apr 2.), no qual concluem que seria até um controle de conteúdo para evitar os males que uma informação equivocada pode provocar.

Dr. Manoel Paz Landim
(Cardiologista, Mestre em Medicina pela FAMERP, Preceptor e Médico do Ambulatório de Hipertensão do Departamento de Clínica Médica da FAMERP, São José do Rio Preto
)

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