Sou obrigado a concordar com os memes da internet:
– Tem alguma coisa muito errada com a nova geração. Ainda ontem ouvi dois adolescentes comentando que a garota pela qual o menino é apaixonado também está caída por ele. Isso não pode! Vai contra a natureza! A juventude é a época dos foras, do sofrimento por amor, das paixões não correspondidas. Qual é a graça deste casal?
Certamente minha experiência está contaminando minhas reações, afinal fui pródigo em levar pé na bunda quando tinha aquela idade. Fiz versinhos de amor, achei que ia morrer, olhei pra lua tentando adivinhar se ela também estava olhando, e todas as tontices dos enamorados. Se essa não fosse a ordem natural, onde estariam os grandes poetas, os grandes compositores e a dor de cotovelo?
Se todo amor fosse correspondido, Lupcínio Rodrigues não teria cantado para esses moços deixarem o céu por ser escuro e irem ao inferno à procura de luz. Nem Dolores Duran falaria “entre, meu bem, por favor / Não deixe o mundo mau / Lhe levar outra vez / Me abrace simplesmente / Não fale, não lembre / Não chore, meu bem”. O mundo está perdido. Ninguém chora mais escrevendo cartinhas com papel perfumado.
Quem não está passando por este tormento pode até fazer gracinhas e tirar sarro da dor de corno do coleguinha. Contudo, pra quem está lá no fundo do poço, não existe lenço suficiente pra tanta lágrima. Alguns dizem até que o sujeito entrou em depressão por causa disso. Todavia, isso não é verdade. Não se pode confundir tristeza com essa grave doença. Ainda há muito a ser estudado na depressão. Entretanto já está bem definido que sua principal condição geradora é interna, bioquímica. E, definitivamente, não é uma questão espiritual, nem muito menos de caráter.
O que se discute ultimamente é o papel da serotonina e do triptofano nessa dança (vide Moncrieff, J., Cooper, R.E., Stockmann, T. et al. The serotonin theory of depression: a systematic umbrella review of the evidence. Mol Psychiatry – 2022), já que os remédios mais utilizados, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina, não são eficazes para todos. Assim, ainda se estuda o papel de outras substâncias para explicar a doença.
Os estímulos externos (emoções, drogas) podem apressar ou desencadear um quadro depressivo, mas é um distúrbio que a consolida. Desde Rousseau discute-se de onde vêm os nossos males (Rousseau juiz de Jean-Jacques, 1776), mas no caso da depressão sabemos que nossos demônios internos são os protagonistas. Sobre essa visão existe um livro lançado em 2000 chamado O demônio do meio-dia de Andrew Solomon. Nele há muitas informações para quem se interessa sobre o assunto.
E boa sorte para o casal.
Dr. Manoel Paz Landim
(Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)