Apesar de não ter me apaixonado pela primeira professora, não escapei do platonismo. Antes dos sete anos de idade eu morri de amores pela Nádia Lippi, uma atriz linda, loirinha, sardentinha, bela até na telinha minúscula da TV preto e branco da nossa casa. Sonhei casar com ela, ouvi-la de perto, pegar na sua mão (e só! Naquela idade meus anseios carnais acabavam aí), e – assim – adormeci várias noites pensando em como seria bom o nosso matrimônio.
Mas, a vida seguiu e fui obrigado a esquecê-la depois de assimilar a primeira decepção amorosa. (Em verdade não foi este o acontecido. A novela acabou e ela não apareceu mais na tela). Na mesma cama onde os meus sonhos dormiam rolaram lágrimas sofridas. É necessário ser dramático nessa recordação, senão ela fica incompleta.
Depois disso, já desiludido na vida e numa idade já avançada, por volta dos doze anos, jurei nunca mais me deixar enganar pelas falsas promessas. Não amaria mais, até vir a Sandra Bréa e por tudo a perder. Mais experiente e exigente, entrando no Cine São José com uma carteirinha falsa pra ver aquela deusa na telona colorida em filmes “proibidos”, deixei-me seduzir e trilhei os velhos caminhos do amor. Nessa idade, pegar na mão já não era o objetivo principal e, assim, o sofrimento foi maior ainda.
Como “o sapo não pula por boniteza, mas, porém, por precisão”, como nos ensinou Guimarães Rosa (A hora e a vez de Augusto Matraga), sucumbi à necessidade de arrumar alguém mais ‘palpável’ para ser a depositária dos meus sentimentos. Daí começou a saga por caminhos mais difíceis, representado pelas inúmeras tentativas de arrumar uma namorada na vida real.
Antes era fácil. Bastava gamar e imaginar. Não havia necessidade nem da eleita saber. Nádia e Sandra foram testemunhas daqueles tempos pacíficos. Arrumar alguém significava vencer obstáculos. O primeiro deles, vencer o medo de “chegar” na menina, o segundo – e tão difícil quanto – pedir em namoro. Ou seja: ela TAMBÉM precisava querer.
Já beirando os sessenta me pergunto qual seria meu relato se no écran preto e branco ou na telona do cinema já houvesse a tal Inteligência Artificial. Como minhas musas teriam reagido aos meus sonhos? Teriam correspondido àquele amor verdadeiro, ou me denunciado como assediador?
Nádia Lippi, por favor saiba: meus sentimentos por você foram os mais puros possíveis.
Sandra Bréa… (Aí já é bom esquecer)!

Como “o sapo não pula por boniteza, mas, porém, por precisão”, como nos ensinou Guimarães Rosa (A hora e a vez de Augusto Matraga)

Dr. Manoel Paz Landim
(Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)

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