MEDICINA/EVIDÊNCIA
Sua tristeza tem data para terminar? Qual é o peso da sua dor? A mulher é mais sensível que o homem? Ainda que ninguém tenha a resposta para essas perguntas, existem certos julgamentos que se pretendem capazes de determinar a hora para as nossas lágrimas secarem, ou para racionalizar nossas perdas. São pressupostos que admitem que nosso peito se abra tão naturalmente quanto o nascer do sol anunciando o novo dia.
O sofrimento tem várias faces, e há estudos profundos sobre ele. O nosso Matias Aires escreveu as “Reflexões sobre a vaidade dos homens”, refletindo sobre as relações entre a vaidade e o sofrimento. Para ele, tanto os homens quanto as mulheres condicionam sua felicidade e sua realização pessoal aos ideais ditados pela vaidade. Podemos concordar ou não com o escritor, mas suas ideias foram publicadas em 1752, e já naquela época chamavam atenção para as futilidades do campo material, as mesmas que permanecem até os dias atuais. Assim, colocou no mesmo prato paixões, vaidades e sofrimento, concluindo que pode até haver “vaidade sem fortuna, mas nunca há fortuna sem vaidade”.
Porém, se admitirmos que amor, perdas e paixão nada têm a ver com vaidade, mas com o sofrimento gerado pelas doenças, iremos ao encontro de Pascal e Nietzsche. Eles propuseram que é a enfermidade quem contribui para a valorização da vida; num outro olhar sobre o mesmo tema, concluindo que o sentido da doença e do sofrimento por ela causados fazem da experiência de viver uma descoberta para as potencialidades da condição humana, reconhecendo no sofrimento não um mal, mas uma oportunidade para o desenvolvimento das próprias possibilidades.
Já pelo lado mais raso do pensamento, a nossa CLT diz simplesmente que o luto pela perda do pai de um professor acaba em nove dias e que a felicidade pelo nascimento de um filho dá cinco dias ao pai para curtir o seu pimpolho. Todas essas divagações, contudo, seriam válidas para quem esteja com o seu estado emocional hígido, ou o mais próximo possível desta condição. A psiquiatria, ramo da medicina que se dedica às emoções e às doenças que as afetam, também dá a sua opinião, estabelecendo um tempo para cada um dos sofrimentos ser enquadrado dentro do esperado. Uma dor que persista por um período maior que o estabelecido dará subsídios ao médico para admitir que o sofredor possua uma condição mórbida que está amplificando o seu padecer.
Desde os estudos de Arthur Tatossian, as várias edições do DSM (“Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais”) estipulam em dois meses o tempo para o luto não ser considerado patológico. O ideal é que a dor da perda seja apenas suficiente para permitir ao enlutado a elaboração da ressignificação de seu existir, e não o retorno a uma vida anterior. Este postulado está muito longe de ser considerado definitivo, e ainda exige a queima de muitas pestanas antes da palavra final.
O saber médico não pretende ser definitivo, nem um divisor de águas e tampouco uma baliza para o comportamento. Pelo contrário, quer entender o quanto um sentimento pode imputar à pessoa uma capacidade de se adaptar sem prejuízo para a sua saúde.
- Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Mestre em Medicina pela FAMERP, Preceptor e Médico do Ambulatório de Hipertensão do Departamento de Clínica Médica da FAMERP, São José do Rio Preto)