Os pais de antigamente almejavam para seus filhos somente serem “alguém na vida”, mas não explicavam o significado disso. Enquanto não descobríamos qual fórmula utilizar, íamos cumprindo tarefas básicas, como escola, primeira comunhão, boas companhias e força para evitar uns tais maus pensamentos. Essas duas últimas recomendações eram impossíveis de seguir:
– Os melhores amigos não eram exatamente as melhores companhias. Eram eles os maiores incentivadores de pensamentos libidinosos. Quem se lembra das revistinhas conhecidas como ‘catecismos’ sabe disso.
Ser adulto sem ter feito um estágio na FEBEM já era lucro para os adolescentes e jovens de gerações passadas, para quem não faltaram estripulias e barbaridades. Pegar o carro escondido do pai, sem carteira de motorista nem idade, só pra passar na frente da casa da namorada tirando onda, era uma coisinha boba e corriqueira. Roubar galinhas da vizinhança pra comer na sexta-feira santa e matar passarinhos com espingarda de pressão – hoje agravantes de pena perante qualquer juiz – já foram costumes aceitáveis e comuns nas boas famílias.
Bons tempos?
– Não! Apenas peculiares. Se havia pouco de inocência, existia muito menos de maldade. Tudo era permitido na terra de irresponsabilidades, onde reinava diversão entre pouca malícia. Foi uma época de aprendizado e de descobertas, onde nos foi possível incorporar conceitos como segurança no trânsito, alcoolismo e DST na infância e adolescência, bullying, além da obrigatoriedade da alfabetização básica e do combate à exploração do trabalho infantil.
Ainda buscamos entender o significado de ser alguém na vida, mas já compreendemos ser necessário evitar muitas coisas, evitando repetirmos erros e perpetuarmos ideias equivocadas. Depois de termos feito tantas burradas, buscamos novos critérios para reconhecer qualidades verdadeiramente dignas. Tentamos nos aproximar da Epistemologia (teoria do conhecimento, segundo a filosofia) e nos afastar do mais rasteiro. Ter sucesso já não é mais sinônimo de possuir muita grana. O Bem-Sucedido é quem busca o universo das ideias, o mundo sensível de Platão.
Está bem na vida quem tem amigos, trabalha com prazer e vive em paz. Quem se enlaça com familiares por afinidade e não consanguinidade, dorme e acorda bem, guarda esperança. Se dá bem na vida quem consegue ser feliz!
- Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)