Todos nós queremos viver mais, porém envelhecer menos. Os idosos formam um grupo de pessoas com peculiaridades e características diferentes das apresentadas em outras fases da vida. Uma das individualidades mais marcantes inclui a mudança do paladar e a diminuição da percepção da sede. São mudanças naturais e explicam muita coisa: Por exemplo, a necessidade de colocar mais sal na comida, tentando resgatar o sabor perdido. Neste hábito está a origem de frases comuns a todos vovozinhos: “– esse macarrão não tem o gosto típico da minha infância”, ou ainda “– ninguém faz polenta igual a falecida nona”.
A combinação de sal em excesso com pouca água explica a facilidade para nossos velhinhos se desidratarem e essa é uma das razões pelas quais as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas responderem pela quarta maior causa de mortes na população idosa, como descrito pela Atualização das Diretrizes em Cardiogeriatria da Sociedade Brasileira de Cardiologia de 2019 (Arq Bras Cardiol. 2019; 112(5):649-705).
Mas, o envelhecimento não é exclusivo dos seres humanos. Tudo fica velho. Se a civilização ocidental, por exemplo, fosse um ser humano, ela estaria bem velhinha e também não veria graça em muitas coisas. A leitura de um livro poderia já ter perdido o sabor como o curau da vovó, talvez a música não mais a embriagasse como licor de jenipapo e anisete e os filmes não despertassem tanto interesse. Contudo, essa velhinha guardaria muitas coisas boas:
- O respeito, certamente seria uma delas.
Mesmo velha, precisando de óculos para enxergar melhor e de bengala para se apoiar, a civilização saberia o quanto custou-lhe a maturidade própria do passar do tempo. Por isso ela reverenciaria os mais idosos, antes de lhes tachar de ultrapassados. Veria potencialidade na experiência e conheceria os limites. Teria autoridade para fazer um juízo de valor, mesmo sem ter reciprocidade.
Vê-se, então, a diferença entre tempo e pessoas. O tempo pode se alongar e preservar suas características, enquanto pessoas esquecem valores e deixam-nos se tornarem senis. Quando se perdem algumas capacidades, outras florescem. Assim, velocidade diminuída não é sinônimo de incapacidade e a grande chance da vida é continuar aprendendo todos os dias.
Os velhos aprendem todos os dias, bastando querer.
Os velhos ensinam todos os dias, mesmo sem querer.
Dr. Manoel Paz Landim
(Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)