Agosto, para muitos, é considerado um mês bem longo, sem feriados, mas não deixa de ser um período de muitas reflexões, como as direcionadas ao combate à violência contra a mulher, e comemorações, como o Dia dos Pais, Dia do Folclore… Bem, sobre folclore, como manifestação da cultura brasileira, como tem sido o olhar para a “antiguidade”, sobretudo quanto à arte, decoração, em meio à tecnologia?
Folclore, segundo o dicionário on-line Significados (2023), “é o conjunto de tradições e manifestações populares […] passadas de geração em geração”. A palavra é originada do inglês “folklore”, que significa sabedoria popular. O termo, de acordo com a mesma fonte, é formado pela junção de “folk” (povo) e “lore” (sabedoria ou conhecimento).
Câmara Cascudo é uma referência nessa temática. Além de escritor, realizou várias pesquisas que podem ser consideradas um resumo da identidade brasileira. Com a obra “Vaqueiros e cantadores: folclore poético do sertão de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará”, em 1939, registrou importantes considerações sobre a cultura e manifestações da região nordeste, abrindo caminho para muitas outras pesquisas sobre a temática, das diversas partes do país.
Trazer para o presente a memória cultural dos nossos antepassados tem sido um importante meio de revisitarmos nossa identidade nacional: os festivais, os museus, as exposições fixas e itinerantes, o teatro, a música… A tecnologia tem sido grande aliada, tanto na divulgação por meios das redes sociais quanto, sobretudo, na inovação do “antigo”, por meio de recursos audiovisuais, que nos levam a cenários jamais possíveis sem a realidade virtual.
Uma teoria já apresentada nesta coluna é a “relocalização da vida”, que consiste em revitalizar antigas práticas em favor de uma melhor qualidade de vida das pessoas e, consequentemente, do meio em que elas vivem. Dessa forma, quando os móveis rústicos, “desprezados” por muitos, ganham novas versões por pinturas e ocupam ambientes requintados, relocalizam memórias folclóricas, não para reviver dores, mas sabores. O mesmo acontece com as roupas: tecidos nobres e modernos marcados com bordados tradicionais dão novos estilos às peças com evidências culturais. Quantos troncos de árvores cheios de histórias decoram ambientes; os designs com vidros mesclam passado e presente, ainda mais se forem decorados com os artefatos de ferro, de madeira, de cabaça, todos relíquias de família.
As cores também entram em cena. Pesquisas, com o uso da tecnologia e da corrente empírica, têm buscado, por processos artesanais de extração da pigmentação de flores e plantas diversas, a fabricação de tintas menos poluentes (nossos antepassados já tingiam tecidos utilizando técnicas da época). As tinturas, motivadas lá no passado, têm ganhado, inclusive, economicamente, valores expressivos, por trazerem essa conexão.
Assim, pensarmos no folclore em tempos tão modernos não significa deixarmos de viver o novo, nem de negarmos quem somos… Nas palavras de Câmara Cascudo, “quem não tiver debaixo dos pés da alma, a areia de sua terra, não resiste aos atritos da sua viagem na vida, acaba incolor, inodoro e insípido, parecido com todos”. Que tal um café gourmet na xícara de 1960?

Prof.ª Me. Alessandra Manoel Porto
alessandra.porto@fatec.sp.gov.br
Docente Fatec Jales – fatecnologia@fatecjales.edu.br

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