As fake news são normalmente definidas como falsas notícias, espalhadas principalmente nos meios virtuais, com o objetivo de enganar as pessoas, favorecendo determinados grupos. No contexto da política, trata-se de um fenômeno pós-moderno que consiste em fabricar “fatos” e “verdades” a respeito dos candidatos, com o objetivo de difamá-los.
Considerando o universo digital, os meios para criar uma notícia falsa são muitos, como “memes”, montagens com fotos e manchetes, cortes de áudios e vídeos fora de contexto, entre outros. Ademais, há recursos de inteligência artificial (IA) capazes de criar vídeos e áudios fakes com uma aparência extremamente realista, como já discutimos nesta coluna. Assim, para identificar uma notícia falsa, é necessário, além de análise crítica, o mínimo de cultura digital. Nesse sentido, convém destacar que vivemos em tempos de pós-verdade, em que fatos possuem menos influência do que crenças para moldar a opinião pública.
Nesse cenário, à medida que o fatídico 30 de outubro se aproxima, quando será decidido quem será o presidente no Brasil, a militância e os simpatizantes mais fanáticos dos candidatos tendem a usar as fake news como uma das principais armas contra seus adversários. E não se engane, bolsonaristas e lulopetistas, todos usam essa estratégia frequentemente!
Há alguns dias eu me deparei com uma mensagem em um grupo de WhatsApp sugerindo fraude generalizada nas eleições do primeiro turno. O texto afirmava que a fraude foi comprovada na cidade de Barreiras (BA), considerando que o município possui cerca de 103 mil eleitores, mas que o candidato Lula (PT) teve 213 mil votos. A mensagem ainda fazia uma indagação: “Em quantas cidades isso pode ter acontecido?”. Bastou isso para que os bolsonaristas mais radicais se inflamassem no grupo, iniciando uma discussão nada amigável com os defensores do PT. Quando vi a mensagem, a primeira coisa que fiz foi entrar no site oficial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ver que se tratava de uma notícia falsa. Ao relatar o fato no grupo, percebi que a verdade pouco importava, pois os militantes de ambos os lados estavam mais interessados em provar cada um o seu ponto de vista.
Um outro episódio aconteceu recentemente no Facebook. Um dos meus contatos postou um vídeo curto com o título “Veja o que o seu mito pensa sobre os pobres”. No corte, que tinha poucos segundos de duração, o presidente Bolsonaro afirmava que “Só tem uma utilidade o pobre no nosso país: votar. Título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso […]”. O vídeo teve dezenas de compartilhamentos, gerando diversas discussões acaloradas sobre a conduta do presidente. Entretanto, bastou uma rápida pesquisa no Google para verificar que o corte se originou a partir de um pronunciamento feito em 2013. Na ocasião, Bolsonaro, ainda deputado federal, criticava as políticas educacionais da então presidente Dilma Roussef, fechando o discurso com a frase polêmica, insinuando como o então governo tratava os menos favorecidos. Ao avisar o usuário do Facebook que era uma fake, ele se recusou a retirar, pois, segundo ele, “provava algo a respeito do presidente”. Ou seja, para os militantes mais fanáticos, a verdade é apenas uma questão de conveniência.
De fato, vivemos num momento complicado em nossa jovem e capenga democracia. A polarização do cenário político em tempos de pós-verdade e fake news exige de todos nós, principalmente da imprensa e dos formadores de opinião, muita responsabilidade ao divulgar informações. Aderir ao efeito manada, compartilhando qualquer coisa sem verificar as fontes, é ser irresponsável, tendencioso e até mesmo desonesto intelectualmente.