Joshua estava cansado. Eram 2h da manhã e a balada não tinha rendido muitas novidades. Decidiu ir embora, afinal de contas, tinha que trabalhar a partir das 8h.
Sacou o smartphone do bolso, abriu o aplicativo de transporte e solicitou um veículo. Queria um motorista humano, pois sua confiança em tecnologia tinha um limite muito bem estabelecido. Não foi possível, pois, entre meia-noite e 6h, apenas carros autônomos tinham permissão para “trabalhar”. “Vou pra casa sozinho novamente”, sussurrou.
Enquanto esperava do lado de fora do estabelecimento, recebeu duas notificações pelo celular. A primeira era do aplicativo de segurança pessoal, que o alertava sobre o local onde ele estava, pois, estatisticamente, a chance de ele ser assaltado naquele horário era muito grande. Foi recomendado a entrar novamente no estabelecimento ou procurar um posto policial a 200 metros de onde estava e aguardar. Rebelde, desobedeceu.
Verificou a segunda notificação. Era o aplicativo de gerenciamento financeiro, que o alertava sobre orçamento mensal. A potencial curva ascendente de gastos o assustou. “Ok, já entendi… se continuar assim, vou precisar fazer um empréstimo”, pensou. Nesse momento, recebeu outra notificação. Era o gerenciador financeiro apontando uma redução no seu Global Score, uma medida usada por órgãos privados e públicos para definir diretrizes e valores de empréstimos, financiamentos, seguros e planos de saúde. A mensagem dizia: “Essa é a 5ª noite em menos de 30 dias que você frequenta locais potencialmente perigosos – 5 pontos”. O Global Score abaixo dos 50 pontos o rebaixava para a classe dos potenciais inadimplentes, fechando as portas do crédito e de outros serviços. “Preciso mudar de vida”, lamentou.
Nesse momento, chegou uma notificação do aplicativo de transporte. O veículo elétrico autônomo estava esperando em frente ao prédio onde ele estava. Levantou-se e caminhou. Ao chegar ao veículo, aproximou seu smartphone para validar o usuário. A porta vertical se abriu e Joshua entrou. “Bem-vindo, Joshua! Sou Scarlett, sua companheira de viagem”, uma suave voz o recepcionou. “Quer ir direto pra casa ou deseja passar em algum lugar?”. Joshua ponderou sobre a pergunta e respondeu: “Direto pra casa, por favor!”. Na verdade, ele tinha mudado de ideia e gostaria de ir para uma outra balada, mas, devido ao que aconteceu com seu Global Score, mudou de ideia novamente e decidiu ir para casa. Nesse momento, Scarlet informou “Temos 20 minutos até sua casa, o que gostaria de fazer?”. Joshua respondeu: “O que você sugere?”. Scarlett sugeriu: “Se você me der acesso aos seus dados de entretenimento, posso sugerir algo legal”. “Ok, surpreenda-me”, respondeu Joshua.
Nesse momento, o para-brisa se converteu em uma tela de altíssima definição e apresentou 3 opções: vídeos engraçados no Youtube, show “Live At Wembley’86” da banda Queen (com realidade virtual) e clipes musicais favoritos.
Escolheu a segunda opção. Nesse momento, um compartimento no veículo se abriu mostrando os óculos de realidade virtual. Vestiu o dispositivo e foi transportado para “dentro” do épico show da banda do lendário vocalista Freddie Mercury. A experiência imersiva o fez esquecer seu problema com o Global Score.
Quando o veículo chegou ao destino, uma mensagem via rádio foi enviada à central do prédio, para confirmar a identidade do morador. O portão se abriu, permitindo a entrada de Scarlett, que deixou Joshua em frente ao elevador inteligente. O elevador inteligente identificou Joshua e o deixou em seu andar.
Ao chegar à sua porta, colocou sua digital na fechadura digital e entrou. Foi até o quarto, se jogou na cama e dormiu. (Continua na parte 2)
Nota do autor: já existem tecnologias capazes de viabilizar todos os cenários propostos nesse conto, porém há uma série de questões éticas, sociais e legais que precisam ser pensadas. Até a próxima!

Prof. Me. Jorge Luís Gregório
Professor e Coordenador do Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Fatec Jales
www.jlgregorio.com.br

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