Foram divulgados recentemente nos meios de comunicação dados alarmantes sobre a fome no Brasil. São 33 milhões de brasileiros, ou seja, 15% da população brasileira que acordam de manhã sem a menor expectativa de como irão se alimentar ao longo do dia. Isso representa as populações do Chile, do Paraguai e do Uruguai juntas, passando fome!
Considerando que o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, que o agronegócio nacional possui tecnologia de ponta que permite obter altíssima produtividade com relativamente pouca utilização de área para a produção e, ainda, que os recursos hidrominerais, condições climáticas e vastíssimo litoral no oceano Atlântico colocam a nação como uma das mais privilegiadas do mundo, o problema citado inicialmente torna-se, no mínimo, controverso.
A única explicação razoavelmente plausível para essa catástrofe, conforme descrito no livro Homo Deus uma breve história do amanhã, de Yuval Harari, é que tal condição existe porque o ser humano assim o permite, ou seja, se quiséssemos, a fome seria combatida, mas, aparentemente, não queremos. A primeira pessoa do plural aqui utilizada é apropriada para chamar a responsabilidade a todos nós por essa mazela social.
Além dos atributos positivos do nosso país, resumidos neste texto, possuímos outras tantas tecnologias que certamente podem minimizar o problema da fome nas nações, incluindo o Brasil.
A tecnologia da informação (TI) e todos os seus produtos tecnológicos, como aplicativos (apps), redes sociais, sistemas bancários eletrônicos, fintechs, entre outros, são capazes de permitir a mobilização social assistencialista ou intervencionista em grade escala e com rapidez.
O atual status dos sistemas integrados de gerenciamento das cadeias de suprimentos (SCM, do inglês Supply Chain Management) atingiu um elevado grau de controle sobre as redes de abastecimento, permitindo um controle quase que total de cada etapa dos sistemas produtivos, ou seja, a gestão tem ferramentas consolidadas para esse fim.
Diferentes tecnologias direcionadas à gestão podem contribuir também para eliminar o desperdício de alimentos no circuito que se estende das fontes produtoras (propriedades rurais), passando pelo transporte (cadeias logísticas), em alguns casos pelos setores industriais (agroindústrias), até o consumidor final. Isso poderia evitar que 27 milhões de toneladas de alimentos, sendo 60% desse montante proveniente das famílias brasileiras (último elo da cadeia), fossem desperdiçados por ano no Brasil.
Apesar dessas constatações, ainda restam as perguntas: o que está errado? Será que não enxergamos a resposta que pode ser tão óbvia? Já passou da hora de resolvermos esse assunto. Não podemos mais esperar “que as coisas se resolvam por si”, não temos mais tempo. Afinal, como já dizia o sociólogo Betinho nos anos 1990, “Quem tem fome tem pressa!”.

Prof. Dr. Evanivaldo C. Silva Júnior
Docente e Diretor da Faculdade de Tecnologia Professor José Camargo- Fatec Jales
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