O uso da Inteligência Artificial (IA) na sala de aula é uma polêmica. Conversando com colegas professores de nível infantil, médio, técnico e superior sobre esse assunto, percebi, pelo menos em grande parte deles, os sentimentos de medo e ceticismo. O medo de ser substituído, e o ceticismo quanto aos impactos positivos que as tecnologias de IA podem supostamente gerar no processo de ensino-aprendizagem.

Olhando para as tecnologias de IA generativa como o ChatGPT, Gemini e Perplexity, que são capazes de manter um diálogo inteligente via texto com seus usuários, qualquer professor ficaria intimidado. No contexto do aprendizado, essas tecnologias são capazes de responder perguntas, explicar temas complexos de maneira simples, gerar conteúdos, criar materiais didáticos, fazer sugestões, resolver problemas matemáticos, entre outras capacidades. Dessa forma, o aluno tem um tutor inteligente disponível 24h por dia.

A constatação óbvia, pelo menos num primeiro olhar, seria que o professor, assim como outras profissões passíveis de automação, está se tornando irrelevante, certo? Errado!

Em primeiro lugar, essas tecnologias, apesar de parecerem inteligentes, não têm inteligência no sentido humano da palavra. O que elas têm é uma capacidade absurda de processamento de grandes quantidades de dados. Nesse sentido, os textos são convertidos em relações estatísticas e probabilísticas, gerando respostas com um elevado grau de exatidão. Entretanto, isso também significa que, dependendo da complexidade da pergunta, de como a pergunta é feita e, principalmente, do contexto, as respostas podem ser superficiais e até mesmo falaciosas. Os nossos estudantes conseguem avaliar isso?

Um outro aspecto a ser considerando é que, olhando para a história do Brasil, passamos por um fenômeno cultural e intelectualmente perigoso: entramos na era digital antes de sermos totalmente alfabetizados e, principalmente, antes de desenvolver uma cultura letrada, diferente dos países de primeiro mundo. Devemos considerar também que temos uma série de problemas com nosso sistema educacional, resultando em uma população que tem cerca de 30% de analfabetos funcionais (muitos deles com curso superior!), além de sérias limitações na aprendizagem em matemática, língua portuguesa e ciências.

Por conta desses e outros fatores, a maioria de nossos estudantes não está preparada para usar de maneira crítica tecnologias como o ChatGPT, que fazem tudo parecer fácil de se resolver e aprender. Assim, o professor, que tem conhecimento e experiência de vida, deve assumir o papel de mediador e, principalmente, de orientador. Portanto, sob a tutela intelectual do professor, o aluno deve avaliar se as respostas da IA fazem sentido, construindo o conhecimento de maneira crítica e colaborativa.

Ademais, convém destacar que o processo de ensino-aprendizagem é uma experiência humana que abrange muito mais do que a transmissão do conhecimento. A interação entre professores e alunos envolve empatia, motivação e inspiração, além de considerar aspectos socioeconômicos e culturais, transcendendo os processos formais da educação. Essa interação transcendental é capaz de criar fortes laços e contribuir para a formação do caráter, além de desenvolver habilidades socioemocionais (soft skills), tão cobradas no mundo do trabalho na era atual.

Assim, apesar de ser uma tecnologia poderosa no contexto da educação, uma IA jamais poderá substituir um professor. Somente um ser humano tem o dom de tocar não apenas a mente, mas o coração do outro, inspirando sonhos, motivando e deixando marcas na alma que nenhuma máquina é capaz de deixar.

Prof. Me. Jorge Luís Gregório

PROF. ME. JORGE LUÍS GREGÓRIO
Professor e Coordenador do Curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Fatec Jales

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