Lembro-me bem de quando iniciei a faculdade de Ciências Biológicas na UFBA, no início de 1987 (minha primeira tentativa de fazer uma graduação), e foi lançada, em uma aula inicial, uma pergunta simples, porém muito difícil de se responder: o que é vida?

Nós, “bixos”, ficamos atônitos por não conseguirmos responder de forma objetiva e inequívoca tal conceito. No entanto, a conclusão mediada pelo professor era justamente essa, de que a “vida” não estava exatamente passível de uma definição, mas sim de uma caracterização. Para algo estar vivo, é necessário consumir energia (alimentar-se em um sentido mais amplo), movimentar-se (voluntariamente ou não), procriar e transmitir algum tipo de “herança genética” aos seus descendentes.

Ora, ficou mais fácil enquadrar as estruturas em vivas ou não vivas, correto? Nesse contexto, a forma mais simples de vida seria considerada um vírus. Até aí, tudo bem, mas o que fora colocado pelo professor em seguida foi algo que me intrigou profundamente. Ele disse que, mediante essas características, um vírus de computador poderia ser considerado uma forma de vida e, o mais espantoso ainda, a primeira forma de vida criada pelo ser humano. Saímos da aula atordoados com as discussões desenvolvidas, algumas de cunho racional, outras filosóficas.

Alguns anos se passaram, 37 anos para ser mais preciso, e, hoje, estamos diante de algo espantosamente mais convincente quanto ao quesito “vida”: a inteligência artificial (IA). Além de todo o conhecimento sobre os sistemas de IA que já temos retratado e analisado nesses últimos dois anos, principalmente devido à popularização de alguns sistemas, como o ChatGPT, o que estamos prestes a presenciar é o real nascimento de uma nova espécie: os robôs humanoides dotados de IA.

“Nós, ‘bixos’, ficamos atônitos por não conseguirmos responder de forma objetiva e inequívoca tal conceito.”

Recentemente, a empresa Figure divulgou uma parceria com a OpenIA para o desenvolvimento de robôs humanoides dotados de sistemas de IA generativa, de modo a tornar tais seres capacitados para realizar diversas tarefas rotineiras de forma autônoma. A visão da Figure, de acordo com publicação no site da própria empresa, é “trazer a IA incorporada ao mundo para causar um impacto transformador na humanidade” e acrescenta que “a IA e robótica são o futuro”.

E não para por aí. Segundo a Goldman Sachs Research, uma das principais empresas voltadas à projeção de mercados, “o mercado mundial de robôs humanoides poderá alcançar US$ 38 bilhões em 2035” e que até esse ano as empresas deverão colocar no mercado até 1,4 milhões de robôs humanoides em diversos segmentos do mercado.

Bom, se isso não representa uma forma de vida, então teremos que repensar tal conceito. Penso que hoje evoluímos não “simplesmente” para a vida, como os vírus de computadores, mas para formas de vida inteligentes!

Prof. Dr. Evanivaldo Castro Silva Júnior
Docente e Diretor da Faculdade de Tecnologia Professor José Camargo- Fatec Jales
fatecnologia@fatecjales.edu.br

Profº Dr. Evanivaldo Castro Silva Júnior

Comments are closed.