A globalização, fenômeno iniciado no final da Idade Média, fomentado pela revitalização do comércio promovida pelas grandes navegações dos países europeus pelo mar Mediterrâneo, litoral da África e do sudoeste da Ásia, passou, como sabemos, por um período de grande intensificação no final do século passado, início dos anos 2000, principalmente com a revolução tecnológica proporcionada pela chamada indústria 4.0.
As linhas de produção industriais, cada vez mais mecanizadas, robotizadas e tecnológicas, expandiram suas fronteiras mundiais. Isso estimulou a criação de arranjos produtivos globais que permitiram, por exemplo, que uma indústria norte-americana, instalada em um país asiático, utilizasse mão de obra multinacional, com insumos/matéria-prima latino-americanos, gerando produtos consumidos em todas as partes do mundo.
Consequentemente, houve cada vez mais integração cultural, social, trabalhista e, por que não dizer, humanista, entre os países do globo, estreitando distâncias, reduzindo fronteiras e aproximando culturas.
Se esse fenômeno é bom ou ruim, não nos convém julgar, até porque é algo mundial e dinâmico, que não depende necessariamente de um determinado povo ou governo, muito menos de nós, afinal é global.
Entretanto, como tudo ou quase tudo no mundo é cíclico, no cenário pós-pandemia que se aproxima, um outro fenômeno sinaliza se fortalecer no futuro, a “desglobalização”.
Alguns cientistas políticos apontam a crise econômica mundial de 2008-2009 como o início desse processo. Ela denotou a fragilidade das economias mundiais no que se refere aos mercados financeiros globalizados, algo semelhante ao chamado “efeito borboleta” no mercado financeiro (uma bolsa que cai potencialmente pode influenciar outras pelo efeito dominó, gerando o colapso em nível global).
Uma das heranças da pandemia de covid-19 é a observação de mais uma fragilidade da globalização no que diz respeito à interrupção da cadeia de suprimentos nos diversos processos comerciais e industriais das nações. Um exemplo notável dessa debilidade foi a redução/suspensão do fornecimento de componentes eletrônicos utilizados na indústria automobilística, que afetou diretamente os fabricantes de veículos.
Para completar esse cenário desfavorável à globalização, iniciou-se recentemente uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que tem provocado corte do fornecimento de combustíveis, principalmente gás natural, aos países da Europa, e de fertilizantes (ambos os países são os maiores produtores e exportadores mundiais do produto), redução da produção e exportação de alimentos pelos dois países envolvidos no conflito, além dos efeitos extremamente negativos do embargo econômico liderado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) à Rússia, prejudicando o comércio internacional com este país.
O cenário é mais que desfavorável ao idealismo neoliberalista baseado na globalização. E é possível piorar? Bom, teremos que aguardar por cenas do próximo capítulo, mas tudo indica o surgimento de dois grandes blocos econômicos, idealísticos e contrapostos. Só nos resta esperar.
Prof. Dr. Evanivaldo C. Silva Júnior
Docente e Diretor da Faculdade de Tecnologia Professor José Camargo- Fatec Jales
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