Historicamente, a Copa do Mundo é um daqueles eventos em que novas tecnologias e ideias são apresentadas ao mundo. Em 2018, na Rússia, vimos o nascimento do controverso VAR (Video Assistant Referee – árbitro de vídeo) e do GLT (Goal Line Technology – tecnologia da linha do gol). Essas duas tecnologias foram decisivas naquela Copa, sendo posteriormente adotadas em todas as competições oficiais chanceladas pela FIFA, o órgão máximo do futebol mundial. Em 2022, no Catar, um pequeno e rico país do mundo árabe, não é diferente, com destaque para três ideias sensacionais.
A primeira delas é a bola oficial, nomeada como Al Rihla, que significa “A Jornada”, em árabe. Fabricada pela Adidas, é a primeira bola inteligente do futebol, pois possui recursos que permitem integrá-la ao VAR, ajudando árbitros e bandeirinhas a tomar decisões mais rápidas durante as partidas, principalmente sobre a infração conhecida como impedimento.
Além da tecnologia Speedshell, que promete melhorar a aerodinâmica, a Al Rihla possui um sensor de movimento capaz de registrar sua posição no campo 500 vezes por segundo. Assim, os dados desse sensor são transmitidos para uma central de processamento de dados, que também recebe dados de 12 câmeras posicionadas estrategicamente no campo. Essas câmeras conseguem analisar 29 pontos do corpo dos atletas, incluindo membros e extremidades, o que é decisivo para a análise de lances de impedimento. Dessa forma, os dados são cruzados por um sistema de inteligência artificial (IA), que avisa a sala do VAR sobre a possibilidade da infração. Finalmente, agentes humanos analisam o lance e enviam uma mensagem ao árbitro da partida confirmando ou não o impedimento. No segundo jogo da Seleção Brasileira, contra a Suíça, o atacante Vinícius Júnior teve um gol anulado devido a um impedimento que antecedeu a conclusão da jogada. O lance passaria facilmente despercebido por agentes humanos, mas não para a implacável dupla VAR/Al Rihla.
Uma outra novidade é o aplicativo Fifa Player, que compila todos os dados estatísticos dos jogadores e os deixa disponíveis para consulta após os jogos. Assim, os atletas podem analisar seu desempenho, considerando distância percorrida, velocidade média, passes certos e errados, ações ofensivas e defensivas, mapa de calor (que mostra dinâmica do posicionamento em campo), faltas sofridas e cometidas, entre outras informações. Convém destacar que esse aplicativo, pelo menos por enquanto, é exclusivo para os atletas que participam do Mundial. Para o público em geral, há outras plataformas que disponibilizam esses dados, algumas de maneira gratuita, como o Sofascore.
Uma outra ideia interessante é o Estádio 974, na cidade de Doha, palco do segundo jogo da nossa Seleção. Com o objetivo de enfatizar questões ambientais, como a sustentabilidade e o reuso, o referido estádio, com capacidade para 40 mil torcedores, foi construído com 974 contêineres. No seu interior, devido ao acabamento impecável, não é possível ver contêiner algum. Entretanto, do lado de fora, é possível vê-los todos empilhados, lembrando um cenário digno das obras de cyberpunk. Vale ressaltar que 974 é o código internacional telefônico do Catar. Um outro detalhe é que ele foi construído bem próximo às águas do Golfo Pérsico, sendo possível criar um sistema de refrigeração mais simples e barato, visto que a brisa das águas torna o ambiente mais agradável naturalmente. Após a Copa, a estrutura do estádio será totalmente desmontada e poderá ser reutilizada na construção de casas populares.
Polêmicas à parte, considerando os aspectos culturais, sociais e religiosos do país sede, mais uma vez a Copa do Mundo de Futebol chama atenção, mostrando que, além de ser um evento de grande proporção, é um marco histórico que transcende o esporte. Certamente essas três ideias irão impactar diversos aspectos dentro e fora do futebol nos próximos anos.

Prof. Me. Jorge Luís Gregório
Docente da Fatec Jales
www.jlgregorio.com.br

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