Iniciei minha carreira esportiva na década de 1960, pertencendo à geração dos Baby Boomers, caracterizada por disciplina, compromisso e foco em saúde e estabilidade financeira. Esta geração vivenciou transformações culturais, sociais e econômicas, com destaque para mudanças musicais e conquistas esportivas. A televisão, recém-popularizada, trouxe eventos marcantes, como a chegada do homem à Lua, a Guerra do Vietnã e o movimento feminista, influenciando suas opiniões e perspectivas.
Essa foi considerada uma das melhores gerações em um mundo cheio de oportunidades. Além de viver em uma época de grandes conquistas, tive o privilégio de ser criada por pais que valorizavam tanto a educação quanto o esporte. Minha mãe incentivou e apoiou minha educação, enquanto meu pai, como atleta e presidente de clubes e ligas esportivas, me encaminhou na prática esportiva.
Iniciei no tênis de mesa e, posteriormente, na natação, no vôlei, entre outros esportes. A base para todos esses esportes foi adquirida em clubes e na escola, mas foi pelo clube que alcancei o hexacampeonato mineiro, o tricampeonato brasileiro, o bicampeonato sul-americano no tênis de mesa e o campeonato mineiro universitário na natação. Infelizmente durante esse período, o tênis de mesa ainda não era considerado um esporte olímpico. Ele só foi reconhecido como tal em 1977, fazendo sua estreia nas Olimpíadas em 1988, em Seul.
Apesar dos avanços da época, a participação das mulheres no esporte brasileiro, com o objetivo de alcançar resultados internacionais, ainda era limitada. Havia muitos obstáculos e leis que proibiam as mulheres de praticarem certos esportes.
No Brasil, o pioneirismo feminino em Olimpíadas ocorreu em 1932, em Los Angeles, com a nadadora Maria Lenk, a única mulher na delegação brasileira, composta por 66 homens. As primeiras medalhas olímpicas femininas do nosso país só vieram em1996, na Olimpíada de Atlanta, nos EUA, com o vôlei de praia: ouro para Sandra Pires e Jackie Silva e prata para Adriana Samuel e Mônica Rodrigues. Conquistas inesquecíveis!
A participação feminina em competições internacionais, como os Jogos Olímpicos, foi uma conquista lenta e repleta de desafios. Somente em 2012, nas Olimpíadas de Londres, todos os países participantes tiveram representação feminina. Hoje, o número de mulheres que praticam esportes de alto nível aumentou consideravelmente, tanto no mundo quanto no Brasil.
A década de 70 marcou a ruptura definitiva dos entraves à participação feminina no esporte, com conquistas significativas em diversas modalidades. De acordo com o relatório “Women and Sport” da Repucom (Nielsen), cerca de 50% da população feminina mundial atualmente demonstra interesse por esportes.
Nestas Olimpíadas de 2024 em Paris, as atletas brasileiras foram protagonistas, após muitos anos de luta. De um total de 289 atletas, as mulheres participaram em número recorde: 163 atletas representaram nosso país, conquistando mais pódios que os homens.
Esse sucesso foi impulsionado pelo apoio do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que reconheceu o grande potencial das mulheres e começou a investir não apenas nas atletas, mas também em técnicas e gestoras. Em 2021, o COB criou a área “Mulher no Esporte” em parceria com as Confederações Brasileiras de modalidades olímpicas, com o objetivo de fortalecer os resultados das mulheres por meio de ações voltadas a atletas, treinadoras, gestoras e outras profissionais do desporto.
O trabalho realizado pelo COB, em conjunto com outros projetos governamentais, possibilitou ao Brasil a conquista de três medalhas de ouro em Paris com as atletas Rebeca Andrade na ginástica solo; Duda e Patrícia no vôlei de praia; e Beatriz Souza no judô. Das 20 medalhas totais conquistadas pelo Brasil, 12 foram de mulheres, que brilharam e demonstraram sua força e talento, destacando o país no cenário esportivo mundial. Parabéns a todas as atletas brasileiras, que com disciplina e determinação alcançaram o pódio nesta Olimpíada. Que muitos mais pódios venham nos próximos eventos!
Rosangela Juliano Bordon Bigulin
(Vice-Reitora Acadêmica do Unijales)