Para aqueles que apreciam esportes e reconhecem a importância que eles têm na formação de crianças e jovens, o fim das Olimpíadas já deixa um vazio. Foram muitos jogos e diversas modalidades que nos emocionaram durante todo o período das Olimpíadas de Paris.

Ao olhar para o quadro de medalhas, vemos os Estados Unidos em primeiro lugar, com 126 medalhas, sendo 40 de ouro; em segundo, a China, com 91 medalhas, das quais 40 são de ouro; o Japão ocupa o terceiro lugar com 43 medalhas, sendo 20 de ouro e o Brasil aparece em 20º lugar, com um total de 20 medalhas, das quais três são de ouro.

Diante desses resultados, surge uma pergunta inevitável: como certos países conseguem tantas medalhas, especialmente as de ouro?

Vamos começar pelos Estados Unidos, que lideram o quadro de medalhas. Nesse país, a base dos esportes está firmemente enraizada no que é conhecido como o “caminho do atleta”. Esse percurso começa nas escolas, passa pelos colégios e continua nas universidades. A maioria dos atletas que se destacam nessas etapas se torna profissional por volta dos 22 ou 23 anos, com um diploma universitário e um bom nível intelectual. A carreira de muitos atletas nos EUA tem início nas escolas e, crucialmente, não é interrompida mesmo quando um projeto esportivo perde continuidade. São raríssimos os atletas nos EUA que não seguem esse caminho para alcançar o profissionalismo.

Além do “caminho do atleta”, é importante destacar que nos EUA não existem universidades gratuitas, nem mesmo as públicas. Muitos alunos, portanto, tornam-se atletas como uma forma de reduzir os custos das suas formações universitárias, buscando bolsas esportivas. Isso favorece uma maior diversificação na prática de modalidades, pois, se um atleta não consegue uma bolsa em determinada modalidade, ele pode tentar em outra. Por isso, é comum ver atletas americanos praticando uma ou mais modalidades esportivas, para aumentar as chances de conseguir uma bolsa. Esse fato gera uma variedade de atletas em diferentes esportes, até mesmo nos menos populares.

Um aspecto interessante desse modelo de formação de atletas nos EUA é que os estudantes-atletas não recebem grandes salários enquanto ainda estão na universidade. Eles conciliam ensino e esporte, e só aqueles que se tornam profissionais após a conclusão do curso terão salários elevados. Os demais seguirão carreiras nas profissões escolhidas durante seus estudos.

Na China, segundo a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) o cenário é diferente, mas igualmente eficaz. Tudo começou com o “Projeto 199”, que se referia ao número de esportes nos quais o país tinha pouca tradição e onde seria possível treinar futuros campeões. Esse projeto foi estruturado logo após as Olimpíadas de Sydney, com o objetivo de preparar a China para liderar o quadro de medalhas nas Olimpíadas de Pequim, realizadas em 2008. Com esse foco, o governo reforçou o sistema já existente de identificação de talentos nas escolas, trazendo, inclusive, treinadores estrangeiros de destaque em suas modalidades.

As escolas de esportes na China existem há décadas, precedendo o Projeto 199. Essas escolas, geralmente públicas, oferecem uma educação regular, mas as crianças dedicam uma parte significativa do tempo à prática esportiva. Os talentos identificados nessas escolas são encaminhados para centros de treinamento financiados pelo governo, onde têm acesso a excelentes equipamentos e treinadores.

Além disso, atualmente, a China faz uso intenso da inteligência artificial e de tecnologia de ponta na preparação de seus atletas de elite. As escolas são incentivadas a realizar aulas de educação física criativas e atividades que despertem o interesse das crianças e adolescentes, aprimorando suas habilidades.

Na China, os esportes se tornaram uma força motriz crucial para o crescimento econômico, a geração de empregos e o aprimoramento industrial. De acordo com a revista Forum, “O 14º Plano Quinquenal para o Desenvolvimento Esportivo do país visa empregar mais de 8 milhões de pessoas no setor esportivo até 2025, refletindo o potencial da indústria para melhorar os meios de subsistência.”

Esses são apenas dois modelos de preparação de atletas ao redor do mundo. Outros exemplos incluem o modelo britânico, que, após uma participação pouco expressiva em Atlanta, destinou uma pequena parcela da arrecadação das loterias federais aos esportes olímpicos. Esse modelo foi seguido pelo Brasil, que alterou a legislação para destinar parte da arrecadação das loterias federais aos esportes olímpicos e paralímpicos. Outra lei no Brasil permite que empresas abatam o Imposto de Renda ao apoiarem projetos esportivos.

Nos dois primeiros modelos, fica claro que as escolas são o núcleo da formação de talentos, desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento inicial dos atletas. Assim, encerro este artigo com algumas reflexões: como estão as aulas de Educação Física no Brasil? As Diretrizes Curriculares valorizam a identificação e o desenvolvimento de “pequenos talentos” para os esportes ou se limitam apenas à recreação? Faz-se necessário a criação de novas Políticas Públicas voltadas ao esporte?

Rosangela Juliano Bordon Bigulin

Rosangela Juliano Bordon Bigulin
(Vice-Reitora Acadêmica do Unijales)

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