Aviso aos leitores: esse é um artigo que procurará demonstrar um exercício simples de interpretação de texto. Essa capacidade é muito exigida atualmente entre aqueles que desejam uma aprovação em vestibulares de universidades concorridas ou em provas para vagas no disputado mercado de trabalho brasileiro.
Vamos primeiramente aos fatos. O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso divulgou, ao longo da semana passada, uma nota pública onde pedia voto pró-democracia nas eleições majoritárias que acontecem no domingo que vem, dia 2 de outubro, em todo o país.
O texto original diz: “Como é do conhecimento público, tenho idade avançada e, embora não apresente nenhum problema grave de saúde, já não tenho mais energia para participar ativamente do debate político pré-eleitoral. Peço aos eleitores que votem no dia 2 de outubro em quem tem compromisso com o combate à pobreza e à desigualdade, defende direitos iguais para todos independentemente da raça, gênero e orientação sexual, se orgulha da diversidade cultural da nação brasileira, valoriza a educação e a ciência e está empenhado na preservação de nosso patrimônio ambiental, no fortalecimento das instituições que asseguram nossas liberdades e no restabelecimento do papel histórico do Brasil no cenário internacional”.
Em nenhum momento o sociólogo cravou um nome de candidato, mas alguns aspectos do texto chamam a atenção para decifrar a mensagem. Pela escolha do artigo masculino “o”, sabe-se que ele se refere a um homem (“está empenhado”). Nesse sentido, os mais bem cotados nas pesquisas de intenção de votos são o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o atual presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Ciro Gomes.
Outros trechos do texto auxiliam melhor na compreensão da mensagem. Quando Fernando Henrique pede ao povo para votar em quem “defende direitos iguais para todos independente de raça, gênero e orientação sexual”, certamente não está se referindo a Bolsonaro, uma vez que o presidente acumula, mesmo antes do mandato, manchetes no sentido oposto.
Alguns dos casos mais famosos envolvem a então deputada Maria do Rosário, a cantora Preta Gil e algumas jornalistas mulheres, entre elas, Vera Magalhães. O mesmo trecho do texto do ex-presidente também não se aplica ao candidato Ciro Gomes, que tem contra si uma declaração desastrosa sobre a ex-esposa, a atriz Patrícia Pilar, que o próprio presidente Bolsonaro relembrou no debate presidencial recente da TV.
Em outro momento, quando FHC pede voto para quem “valoriza a educação e a ciência e está empenhando na preservação do nosso patrimônio ambiental e no fortalecimento das instituições que asseguram nossas liberdades” já não há mais dúvidas, ele não se refere a Jair Bolsonaro justamente porque o atual presidente incentiva seus apoiadores a criticarem constantemente as ações do STF – Supremo Tribunal Federal.
Os leitores devem estar se perguntando: Mas por que adversários históricos, como FHC e Lula se uniriam agora? O título da nota justifica tudo: pela democracia. Dessa forma, fica claro que o ex-presidente Fernando Henrique quer convencer eleitores, especialmente os de candidatos sem chance na disputa, como Ciro, Simone Tebet e Soraya Thronicke, a usarem o voto útil.
Se a mensagem será entendida por todos e se o argumento de Fernando Henrique Cardoso terá algum peso na decisão dos eleitores no próximo domingo, isso saberemos em breve.

Ayne Regina Gonçalves da Silva (É jalesense. Jornalista com mestrado em Comunicação e Semiótica. Professora especializada em Metodologia Didática. Franqueada da Damásio Educacional em Araçatuba e Birigui)

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