Marlene Simons (THE WASHINGTON POST)
(Por Estadão)

Beber quantidades moderadas de álcool todos os dias não protege -como se pensava- contra a morte por doenças cardíacas, nem contribui para uma vida mais longa, de acordo com uma nova análise abrangente de estudos sobre álcool.
A revisão, que examinou pesquisas envolvendo quase 5 milhões de pessoas, é um dos maiores trabalhos a desmascarar a crença de que o consumo moderado de vinho ou outras bebidas alcoólicas faz bem. No ano passado, pesquisadores na Grã-Bretanha examinaram dados genéticos e médicos de quase 400 mil pessoas e concluíram que mesmo o baixo consumo de álcool estava associado ao aumento do risco de doenças.
O novo estudo, publicado na Jama Network Open, descobriu que beber níveis relativamente baixos – 25 gramas por dia para mulheres e 45 gramas ou mais por dia para homens – na verdade aumentou o risco de morte. Uma dose de vinho padrão tem cerca de 140 gramas. A porção padrão de cerveja tem cerca de 340 gramas e de bebidas destiladas, 40 gramas. “Este estudo destrói a esperança de muitas pessoas de que o uso moderado seria saudável”, disse Robert DuPont, psiquiatra e especialista em abuso de substâncias que foi o primeiro diretor do Instituto Nacional de Abuso de Drogas.
MENOS. “A mensagem é que, em termos de saúde, menos álcool é melhor”, disse Tim Naimi, autor do estudo e diretor do Instituto Canadense para Pesquisa do Uso de Substâncias e professor de saúde pública da Universidade de Victoria. “Ou então podemos dizer: beba menos, viva mais.”
A crença de que o consumo diário de álcool é bom para a saúde data da década de 1980, quando pesquisadores identificaram o “paradoxo francês”: a sugestão de que baixas taxas de doenças cardiovasculares entre os homens na França estavam associadas ao consumo diário de vinho. Embora análises posteriores tenham encontrado falhas na pesquisa, a crença se tornou amplamente aceita. E grande parte da pesquisa sobre os efeitos do álcool na saúde foi financiada pela indústria do álcool. Um relatório recente descobriu que 13,5 mil estudos foram pagos direta ou in- diretamente pela indústria.
“Muitas vezes se pensa que o vinho é algo especial, que o álcool do vinho de alguma forma tem propriedades mágicas”, disse Tim Stockwell, principal autor do estudo e professor de Psicologia na Universidade de Victoria. “Foi só um golpe publicitário para a indústria do vinho três décadas atrás. O papel protetor do álcool do vinho agora é contestado, e as evidências não se sustentam.”

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