Todos os livros que estudam as mudanças na sociedade apresentam a reforma protestante do século 16 como um dos eventos mais importantes da história. Seguindo o intenso desejo de uma igreja mais pura, adquirido dos pré-reformadores, Lutero chamou a Igreja para uma volta à Bíblia onde ela pudesse ser o centro do ensino e referência para a vida dos cristãos. Baseado neste mesmo espírito, o teólogo francês João Calvino desenvolveu uma série de sermões e livros com alto teor bíblico-acadêmico onde conceituava diversos pontos teológicos aplicados à vida toda, posteriormente chamada de “Calvinismo”. Essa volta à Bíblia foi o que fez surgir a chamada Teologia Reformada, que é não somente uma forma de interpretar a Bíblia, mas também uma forma de interpretar o mundo, ou seja, interpretar cada aspecto da criação dentro da ótica de Deus e para a glória dele.

Esta visão de mundo é tão extraordinária que a prestigiosa revista Time dos Estados Unidos classificou a Teologia Reformada como sendo uma das 10 ideias mais impactantes dos últimos séculos, capaz de impulsionar não só a religião, mas também a ciência, a política e a educação, conforme https://albertmohler.com/2009/03/18/time-magazine-on-10-ideas-changing-the-world-right-now.

         Como vimos no artigo anterior, os princípios da doutrina cristã não são limitados apenas à esfera da igreja ou do culto, mas são realidades que permeiam todas as atividades e crenças do indivíduo em qualquer área da vida. Logicamente isso irá gerar um estado de tensão permanente porque uma cosmovisão cristã entrará em conflito com outras visões de mundo marcadas pelo secularismo. É a mesma tensão que existe em um índio que se muda para a capital ou em um japonês tradicional vivendo em um país ocidental. A visão de um mundo que se opõe aos seus valores cria um estado de assimilação, conformação ou permanente negação. No caso de uma cosmovisão cristã a tensão existe porque ela confessa a suprema autoridade das Escrituras sobre todas as dimensões da vida, enquanto que a força da cultura secular deliberadamente a nega como forma interpretativa ou normativa para a vida. Conforme Walsh e Middleton, “a cosmovisão de um povo é sua maneira de pensar a respeito da vida e do mundo, associada aos valores que estabelecem para si mesmo dentro do contexto daquela maneira de pensar. Os japoneses têm uma cosmovisão que molda sua vida em um conjunto; os índios canadenses têm uma cosmovisão, a cultura da maioria na América do Norte tem uma, e assim por diante.” É algo que todos têm, embora nem sempre saibam explicar.

         Dado que as crenças acerca da vida repousam em um compromisso de fé, é natural dizer que “uma cosmovisão nunca é meramente uma visão da vida. É sempre uma visão, também, para a vida” (Walsh e Middleton). O conceito bíblico de Criação – Queda – Redenção é o fundamento através do qual se procura responder as questões “Quem sou eu?”, “O que está errado?” e “Qual a solução?” para construir padrões perceptíveis de entendimento vivencial.

Nos próximos artigos irei detalhar cada um desses fundamentos e pensar sobre as subsequentes implicações na totalidade da vida.

Até lá, se Deus quiser.

Rev. Onildo de Moraes Rezende (Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento)

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