Em sua visão acerca da educação – associada à política e à cidadania – a pedagoga norte-americana “bell hooks” não somente reconhece que os atos de ensinar e aprender proporcionam ao indivíduo a capacidade e autoestima necessárias para o aprimoramento próprio, mas também que tais ações podem fortalecer a convivência com todas as diferenças presentes na sociedade atual.
Na visão da pensadora, ao se deparar com o diferente durante o processo educacional, o indivíduo entra em conflito com suas experiências passadas (a priori) na relação com o outro (a posteriori). Todavia, graças à sua prática, ao longo das lutas pelos direitos civis da população negra norte-americana, “bell hooks” reconhece que o conflito entre diferentes experiências humanas e leituras de mundo proporcionam a possibilidade de se transformar em um profícuo debate de construção de mudanças para as problemáticas e injustiças sociais, desde que esse intenso diálogo reconheça a existência do outro e do diferente enquanto sujeitos plenos.
Entretanto, isso, lamentavelmente, ilustra-se de modo negativo no debate político brasileiro, cada vez mais empobrecido, e na consequente fragilização da democracia, na medida em que décadas de subfinanciamento da educação básica e descontinuidades de políticas públicas de caráter mitigatório são realidades presentes, cujo resultado é a gravíssima defasagem educacional, a qual não se limita apenas à incapacidade de resolver simples operações matemáticas, mas atinge o seio da democracia republicana: a capacidade de leitura e intervenção no mundo.
Sem essas ferramentas de libertação, as quais se traduzem na filosofia do pedagogo Paulo Freire como a precedência da leitura do mundo anterior à palavra escrita, ou seja, sem a habilidade crítica de interpretar os desafios coletivos que afetam a todos, os indivíduos comprometem sua própria construção enquanto sujeitos, devido à falta da leitura e da reflexão. Desprovidos dessa análise crítica e leitura de mundo autônoma, os indivíduos se tornam alheios ao seu potencial de intervir na realidade material e, dessa forma, as consequências de uma frágil educação corroem os pilares de uma sociedade democrática: seus cidadãos.

João Gabriel Ignácio da Silva
(Aluno do curso de redação do Centro de Educação Professor Marcondes)

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