Desculpe-me a ignorância, mas discorrer sobre qualquer temática hoje em dia é muito complicado dada a multiplicidade de variáveis e variantes, posicionamentos diversos e divergentes, inclusive nos meios acadêmicos, onde lamentavelmente grassa o tema em questão aqui. Existe o cidadão ignorante, o profissional ignorante, o político ignorante, o religioso ignorante, o educador ignorante, enfim, gente ignorante por toda parte.
A ignorância, segundo o nosso Aurélio, se revela em três aspectos principais, quais sejam, quando a pessoa não tem conhecimento da existência ou da funcionalidade de algo, quando a pessoa é desprovida de conhecimentos, condição de quem não tem estudo e quando a pessoa tem comportamento carregado de grosseria, que se comporta de maneira incivil. Portanto, existe gente ignorante com ou sem estudo, desde o menos favorecido ao mais letrado de todos os acadêmicos, porque, como vimos, a ignorância não é só intelectual mas também comportamental.
O mais importante é entender que dentro desta trina classificação existem níveis de manifestação e precisamos ficar atentos para não nos deixar influenciar negativamente por tanta gente ignorante com quem lidamos no dia a dia de nossa vida atribulada. Porque logo pela manhã você já precisa saber lidar com a ignorância de algum familiar, sai para o trabalho e se depara com gente ignorante pelo trânsito e, quando chega lá, especialmente naquelas profissões que lidam com gente, se depara com mais gente ignorante, quando não com a ignorância do colaborador mais próximo, do chefe imediato ou do patrão.
Entendamos bem a problemática toda e assim poderemos viver dias melhores…
Existe o ignorante humilde ou passivo que é aquele totalmente desprovido de maiores conhecimentos e cultura em geral, vivendo sua vida da maneira que aprendeu com os familiares e o meio social, pautando sua compreensão e suas atitudes na base do senso comum, sem alardear muito sua condição. Apegado, pouco aprende e vai manifestar a cultura que traz do seu nível de convivência e formação com poucas alterações ao longo da vida.
Já o ignorante prepotente ou ativo é aquele que, mesmo estando na mesma condição do anterior, faz questão de impor sua categoria e índole, tornando-se um defensor feroz de seu nível, geralmente atropelando as pessoas à frente. Por isso, com este tipo requer-se mais cautela, porque quando ele se vê acuado por desconhecer ou não aceitar seu nível de ignorância, parte geralmente para a grosseria e até a violência extrema, como temos visto mais ultimamente.
O ignorante acadêmico é aquele que ao longo dos anos de escolaridade e academia, inclusive com mestrado, doutorado e até pós-doutorado, enclausura-se cada vez mais numa torre do saber, geralmente de alguma especialidade, causando-lhe, por um lado, grande dificuldade em lidar com a realidade multifacetada da vida, por outro, distanciando-o da vida real, tornando seu discurso um sonho ideal, a prática outra. Igualmente apegado, também neste tipo existem os prepotentes, que com habilidade retórica conseguem impor suas verdades.
O pior ignorante é o do tipo maligno ou pernicioso, que mesmo ciente de sua condição de ignorante, em qualquer circunstância ou assunto que lhe chega, julga mal os fatos e as pessoas, faz questão de propagar inverdades, cria confusão e mal-estar nos ambientes, e ainda por cima, não ouve nem reconhece seus próprios erros. Como exemplo, temos os divulgadores de boatos e Fake News etc. Este é o tipo mais perigoso, porque aqui também existem os prepotentes que com imensa falta de escrúpulos chegam até a cometer crimes hediondos.
Aliás, na origem da palavra escrúpulos reside o sentido de medo, receio em fazer as coisas por desagradar ou desrespeitar alguém, o que antigamente chamávamos de moral, palavra em desuso atualmente. Nesse ponto, acho que a origem da ignorância e da imoralidade se encontra na maior das ignorâncias que é o desconhecimento de que a vida é governada por uma força sobrenatural que, por hora, chamamos de Deus. A inobservância dessa verdade eterna é a origem de toda e qualquer desgraça.
Em geral, para lidar bem com o ignorante, precisamos ter paciência para explicar-lhe nossas intenções e apresentar com cuidado os fatos despercebidos por ele. Tudo isso, sem inferiorizar o ser humano que está ali por trás, porque, acreditemos, sua ignorância é fachada. O problema é conseguir tempo diante das demandas que se avolumam a cada dia. Como seremos sempre ignorantes em alguma coisa ou em algum momento, cuidemos para que não sejamos o ignorante da vez. Se acontecer, lembremo-nos de pedir desculpas imediatamente e cortar o mal pela raiz.

Marcos Humberto Paulon de Lima (Coordenador pedagógico da EE. Prof. Akió Satoru de Urânia. Publicou dois livros: “A Dinâmica da Aula” e “O Estudante Feliz”)

Comments are closed.