• MEDICINA/EVIDÊNCIA

O Dr. Gopalkrishna Sreejit e seus colaboradores estudaram os efeitos que as primeiras células recrutadas para reparar o tecido lesado no coração logo após o infarto do miocárdio e concluiu que essa resposta pode causar muito mais inflamação do que o corpo necessita, gerando uma condição patológica maior que o dano inicial (Circulation.2022;145:31–44). Essa reação é bastante semelhante ao que acontece com as doenças autoimunes, que ocorrem por um mau funcionamento do sistema imunológico, levando o corpo a atacar os seus próprios tecidos. Isso que acontece com o nosso corpo é conhecido desde os primeiros tempos por um termo que se tornou bastante comum: “de boas intenções o inferno está cheio”.
Assim como a vida imita a arte, algumas pessoas imitam o comportamento das células. São as que nos ofendem, mas “sem querer”. Falam o que pensam e o que não pensam, o que querem e o que não querem, e – ao final – pedem desculpas dizendo que não tinham a intenção de provocar mal estar ou incômodo. O pior é que a maioria delas realmente não tem esta intenção, o que agrava ainda mais esse comportamento, pois as suas maldades são inatas. Essas, se tivessem bolado algum plano, talvez não fossem tão certeiras, pois não têm tirocínio para tal.
As altas esferas do poder, onde o exercício da política partidária molda as palavras, as ações e as omissões, são ricas em exemplos deste jaez. Recentemente o próprio presidente da República vociferou contra a ANVISA e seus servidores, insinuando a existência de corrupção no órgão e tendências antirepublicanas internas. A fala gerou uma resposta natural e esperada do diretor da autarquia, fazendo o boquirroto passar por mais uma dentre tantas saias-justas, embora sem produzir nenhuma retratação. As respostas celulares fazem-se acompanhar de alguma reação, seja dolorosa ou comprometedora das funções do órgão lesado, como o coração, citado logo no início deste texto. Contudo, o agente nocivo desta feita sequer ousou minimizar os efeitos do seu mal calculado gesto.
Quando as doenças resultantes de ações equivocadas dos organismos são diagnosticadas, a medicina lança mão de medidas terapêuticas para minimizar o mal que provocam. Já as pessoas que atuam dentro da má fé, essas atribuem suas ações a um ato de distração. Os naturalmente provocadores, mal intencionados por vocação e portadores de ideais poluídos, não mimetizam os atos. Ao contrário, atribuem a maldade ao interlocutor e culpam os outros pelos próprios erros.

  • Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Mestre em Medicina pela FAMERP, Preceptor e Médico do Ambulatório de Hipertensão do Departamento de Clínica Médica da FAMERP, São José do Rio Preto)

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