Muitas pessoas têm desenvolvido temas, seminários e artigos sobre os novos paradigmas das relações humanas: como nós estamos passando da era industrial para a era da comunicação (ou informação). O consenso é que os adventos das novas tecnologias influem diretamente sobre as relações e a forma de comunicação social. Para que este artigo não seja apenas mais um a tratar do que já foi pensado com mais precisão por outros, não quero focar apenas na modernidade, mas tratar sobre o aspecto comunicativo conforme foi tratado pelo filósofo Aristóteles na Grécia antiga.
Aristóteles elaborou um arquétipo conhecido popularmente como “o triângulo retórico”. A ideia era mostrar que todo tipo de comunicação envolve três elementos que geram aceitação, perplexidade, repulsa ou convencimento, conforme quem fala, como fala e o que fala. A imagem desse discurso pode ser comparada a uma transmissão radiofônica: há o emissor da mensagem e o receptor. Entre eles, a mensagem propriamente dita. A questão imaginativa é bastante simples, mas entre os dois há muitos aspectos que podem distorcer a mensagem – ruídos que causam interferência e impedem que a palavra alcance corretamente a mente daquele que ouve.
Um desses aspectos comunicativos é a palavra grega ethos. Ela está ligada ao caráter, credibilidade que gera boa percepção do ouvinte sobre aquele que fala, garantindo autoridade. Quando recebemos uma informação logo perguntamos: “Quem falou?”. A mensagem em si é tão importante quanto sua fonte.
Outro aspecto é o pathos da mensagem, ou seja, a capacidade de extrair emoção do ouvinte (pathos=empatia). Está ligada aos sentimentos e emoções decorrentes do discurso. Já percebeu quantas vezes nos comovemos com as histórias daqueles que nos batem à porta pedindo ajuda, apesar de termos dito que nunca mais ajudaríamos estranhos? O discurso emocionado é um prato cheio para os ludibriadores de consciência alheia manipular convicções. Sentimentos convencem.
E, por fim, Aristóteles cita o logos como o outro vértice do triângulo comunicativo. É o discurso em si, a palavra falada, o conteúdo lógico que confere sentido à comunicação. Esta é a maneira que Deus escolheu para se relacionar conosco e tornar sua vontade conhecida.
Uma questão bastante interessante é que quando o evangelista João escreveu o evangelho usou a palavra Logos para se referir a Jesus. Em João 1.1 está escrito: “No princípio era o verbo (logos, no grego), e o verbo (logos) estava com Deus, e o verbo (logos) era Deus.” Essa palavra era comum à época e usada para se referir ao decreto (ou Palavra) Divino que confere ordem ao universo. João diz que Jesus é o Logos Divino através do qual a salvação veio a nós anunciando as palavras e obras de Deus, “a verdadeira luz que, vinda a este mundo, ilumina a todo homem” (Jo 1.9). Pode ser que a mensagem do evangelho não seja muito coerente com a lógica humana, afinal pessoas querem um salvador super-herói, uma mensagem adocicada que exija mínimos compromissos e uma religiosidade limitada aos parâmetros do que convencionamos. A mensagem do evangelho não é nada disso. Ela fala de um salvador que morreu na cruz, de uma consagração inteira de vida e de mandamentos que vão muito além da nossa frágil concepção. Esses mandamentos seriam muito diferentes se Jesus estivesse interessado em granjear a simpatia dos adeptos. Não se esqueça, porém, que estamos falando da lógica e da sabedoria de Deus e não do homem. Neste caso, a sujeição voluntária de alguém a Deus só pode ser vista como um milagre do céu onde a graça dobra e rende o coração.
Deus continua falando. O Logos de Deus ainda manifesta a vontade Divina. Você tem ouvido? Ou ainda há ruídos que causam interferências e te fazem perdem o conteúdo da mensagem do evangelho?
- Rev. Onildo de Moraes Rezende (Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento)