Durante 30 anos na educação tive o prazer de dar aulas para muitas crianças e adultos. Essa experiência fez com que eu buscasse sempre me aprimorar nos estudos porque nunca estamos preparados para atender com total capacidade os alunos que se reinventam todos os anos.
A sociedade, o ser humano e sua complexidade são realmente áreas de estudo e atuação que exigem muita dedicação, pois não existe ninguém igual a ninguém e, portanto, estamos longe de ter uma receita para o sucesso.
Fico pensando em quantas crianças que estiveram na minha sala que hoje seriam rotuladas como portadoras de Autismo, TDH … e que eu tive que dar conta e muito bem, mesmo tendo uma sala com 28 alunos na educação Infantil. Diante de um desafio, corríamos num estudo individual e árduo ou nos amparávamos numa equipe, num estudo de caso até encontrarmos um caminho para chegarmos àquele aluno; e não foram poucos.
Hoje as escolas enquadram os alunos que não estão nas regras que ela determina e logo cedo rotulam, sem perspectiva nenhuma de sucesso. Mas o importante não é o sucesso de um trabalho bem realizado, é o rótulo que vai justificar meu desempenho não alçado porque o problema é o aluno, jamais a escola.
A massificação do ser humano e a incapacidade de toda uma equipe tem deixado à margem crianças cada dia mais discriminadas, rotuladas, marginalizadas… criando para elas um histórico de insucesso.
Diante da dificuldade de aprendizagem de um aluno, ou mesmo dificuldade de se adaptar aos padrões exigidos pela sociedade, a escola se vê perdida e o professor muitas vezes sem capacitação alguma para lidar com o diferente, solicita socorro a outros profissionais. Desejaria até fazer uma capacitação, mas a realidade é agora, não espera o tempo acontecer.
Quantas escolas se adequaram para receber pessoas na inclusão escolar? Quantas escolas pagaram capacitação para seus funcionários e professores?
A inclusão deve ser feita não somente na Lei que está um século avançada e sim com muito estudo e capacitação. Já não nos basta prédios bonitos, novos, bem equipados sem uma equipe que saiba trabalhar com as diversidades.
O professor, por sua vez, precisa desejar a capacitação, ser capaz de assumir uma postura responsável diante daquele ser humano que precisa de orientação e com o qual irá passar horas e terá que trazer contribuições valiosas para seu desenvolvimento cognitivo e comportamental.
Diante do quadro atual, índice grande de suicídio, desajuste emocional de toda uma sociedade, é preciso mais uma vez a restauração desse profissional tão importante para o desenvolvimento humano: o Professor.
Precisamos, não ser super-heróis, mas assumirmos, sim, nossa competência técnica e embarcarmos, não num modismo, mas num mundo diferente que nos surge com a realidade atual.
Aceitar o outro como ele é seria o primeiro passo para ajudá-lo, acolhê-lo, integrá-lo.
As diferenças se acabam onde o amor permanece!
Marli Lorena (Especialista e habilitada em Educação Especial Doutora em Psicanálise Clinica)