Tão contraditório quanto falar de água seca ou do brilho da escuridão é usar essa odiosa expressão (perdão pelo trocadilho infame). Na verdade ela só é usada por quem sofre ou a observa. Os que a perpetram negam-se veemente a reconhecer esse termo, preferindo falar em justiça operante, retribuição consistente ou qualquer outro recurso linguístico que esconde o profundo ódio misturado com amarguradas doses de incapacidade mental e espiritual de dialogar imparcialmente qualquer questão sobre a qual haja divergentes interpretações.
Ele existe naqueles que perderam a sua humanidade e se alimenta do rancor produzido pela observação de que sua ideologia, pensamento ou preferência deve estar acima do outro. Assim, um ato praticado por alguém da mesma ideologia tem toda a complacência das escusas, enquanto que o mesmo ato praticado por aquele a quem se considera opositor é visto como algo ultrajante: quem praticou merece ser banido, cancelado e perseguido incansavelmente, afinal tem a justificativa da pretensa ofensa. Ferro com ferro, olho por olho. Mas sempre em doses maiores.
Usando as palavras de Marcelo Vasconcelo disponível em https://www.migalhas.com.br/depeso/375477/odio-do-bem, “sua forma de atuação tem o incrível poder de usar o mesmo mecanismo cujo repúdio é proclamado por quase toda a grande mídia (leia-se consórcio parcial de imprensa) como o discurso de ódio.
Também pode invocar a mesma violência (que o meio progressista diz tanto combater)”. Como já usei este espaço anteriormente para expor a contradição da “intolerância da tolerância” desejo falar sobre o mandamento de amor bíblico como uma urgente necessidade em nossos relacionamentos. O amor que vence o ódio.
O conceito de amor está desgastado na sociedade, limitado apenas ao desejo ou sentimento. Como consequência, pratica-se a lógica de que o sentimento de amor deve gerar atos de amor, e não o contrário, como deve ser.
Na Bíblia o amor é medido pelo que a pessoa dá e não pelo que recebe, ou seja, a essência do amor cristão é a firme disposição de se sacrificar em benefício do próximo. Por isso é tão difícil de ser praticado. A tendência normal do ser humano é envolver-se com o próximo até certo limite, mas não a ponto de se dar inteiramente. Isso, porém, não poderia ser descrito como amor e sim como conveniência que faz bem apenas a si mesmo, à medida que satisfaz o desejo interior de sentir-se útil ao outro e amado pelo próximo. Em última análise, significa apenas amar a si mesmo.
Há um caminho melhor. Em resposta aos questionamentos de um religioso de sua época Jesus resumiu o sentido dos mandamentos em dois pontos: amar a Deus e amar o próximo (Marcos 12.28-34). Porém, não somos nós quem define por conta própria a forma que o amor deve ter. Deus é quem faz isso, portanto, o amor deve ser compreendido pela definição dada por ele.
O texto mostra de forma clara que o Senhor não aceita amor sem sacrifício. Pelo contrário, o amor a Deus deve ser de todo coração, de todo entendimento, de toda a força e com toda a alma – menos que isso Deus não aceita; o amor ao próximo deve ter o próprio Deus como medida à luz do que ele fez por mim. Amar o próximo como a si mesmo significa fazer para ele o que gostaria que fizessem a mim (Mateus 7.12).
Mas não se engane: você só será capaz de amar sacrificialmente o seu próximo se amar a Deus do jeito que ele quer. É o amor a Deus que define a forma de como o próximo deve ser amado. E ele mesmo nos capacita a isso.
Em tempos brutos como estes que vivemos, somos chamados a viver o amor bíblico na esfera da glória de Deus. Como alguns poetas exclamam: Mais amor, por favor!
Rev. Onildo de Moraes Rezende
(Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento)