Reflexão

Temos caminhado juntos em alguns artigos procurando lançar luz sobre estes dois aspectos fundamentais que envolvem o conhecimento e o ser humano. No artigo anterior procurei mostrar que não procede a ideia da separação entre elas. Cada avanço científico não é um triunfo da racionalidade sobre a fé, mas uma conquista saudada pelos dois lados. Neste artigo desejo mostrar como é possível estabelecer um diálogo de conhecimento firmado na mútua cooperação entre ambos.
Algo que está além da observação óbvia e aparente acerca do tema é que muitos relevantes cientistas eram cristãos praticantes. A alguns estranha-se o fato de cientistas serem cristãos professos, porém na antiguidade era considerado normal um cientista atestar sua fé em Deus e, ao mesmo tempo, glorificá-lo com as descobertas. Citando novamente a escritora Nancy Pearcey em seu livro “A alma da ciência”, ela afirma que “os primeiros cientistas não argumentavam que o mundo era ordenado por leis e que, portanto, devia haver um Deus racional. Antes, sua argumentação era que havia um Deus e, portanto, a ordem no mundo devia ser determinada por leis. Eles tinham maior confiança na existência de Deus do que na legitimidade da natureza”.
Isto posto, torna-se patente que, ao estudar as ciências, os primeiros cientistas tinham em mente descobrir também o caráter e a bondade do Criador para o benefício da humanidade. Se Deus é puro e bom, de algum modo a Sua criação também deve revelar algo dessa bondade e, assim, as coisas do universo podem ser interpretadas por mentes racionais. Portanto, ao estudar a ciência eles criam na capacidade de descobrir a ordem do universo e a natureza do Criador, embora esse conhecimento fosse limitado. A ciência não estava separada da teologia, porém sem haver conflito entre si. Esse era o modelo observacional de Davi que, mesmo sem ser cientista, escreveu no Salmo 19.1: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos”. No Salmo 8, 139 e em diversos textos do livro de Provérbios de Salomão vemos a mesma ótica: a observação da criação é um convite a louvar o Senhor que criou todas as coisas.
Este aspecto da revelação deve ser melhor entendido porque apresenta a motivação que poderia levar alguém ao estudo. Qual a lógica em Deus criar todas as coisas ex nihilo (a partir do nada) e privar o homem do seu conhecimento? Por que cegar o homem de entendimento de forma a não fazê-lo ver a verdadeira beleza do mundo? O conhecimento da sabedoria de Deus manifesta nas coisas criadas geravam um impacto tão grande nos cientistas que muitos deles extravasavam em adoração. Kepler citava Deus em seus estudos e não fazia distinção entre fé e ciência; Isaac Newton advogava a ideia de que a natureza promove a ideia de um criador, assim como um relógio indica a existência de um relojoeiro; Galileu criticava veementemente as ideias místicas e materialistas de sua época e concebia a crença de que o mundo é um mecanismo complexo concebido pelo “Arquiteto Divino”; Paracelso (considerado um dos fundadores da medicina moderna) tinha rígidas posições contra o que considerava incompatível com o cristianismo; Van Helmont (além de médico, a ele se atribui a descoberta do gás), Harvey (estudioso da circulação do sangue e de estudos do coração no século 17) e muitos outros cientistas citavam Deus em seus estudos e o agradeciam pelo conhecimento. Como se vê, ciência e fé andavam juntas…
É uma pena que os livros didáticos de hoje apresentam as histórias das invenções ou descobertas científicas como algo simplesmente “surgido” ou “alcançado”, mas não mostram as motivações religiosas que as inspiraram. Cita-se apernas a controvérsia de Galileu com a Igreja para perpetuar a pretensa ideia restritiva que da fé sem mencionar que essa mesma fé foi a promotora de muitos benefícios que a humanidade hoje possui.
Próximo artigo finalizaremos esta série de observações. Deus te abençoe.

Rev. Onildo de Moraes Rezende (Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento)

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