O que Gérson, o canhotinha de ouro e Zeca Pagodinho têm em comum? Ambos são conhecidos por ideologias de vida que construíram. Em meados dos anos 70 Gérson fez a propaganda de uma marca de cigarro mais barato que os demais que culminava com a expressão: “Leve vantagem”; Zeca Pagodinho criou o bordão do descompromisso e desapego cantando “deixa a vida me levar”. Diferentes de Cazuza, que morreu procurando uma ideologia para viver. Na verdade, era apenas uma expressão artística, já que viveu ao máximo a ideologia de “sexo, drogas e rock’n roll”. Desde a ideologia dos hippies (“paz e amor”), dos pacifistas (“viva e deixe viver”), dos abortistas (“meu corpo, minhas regras”), dos conformados (“cada um no seu quadrado”), existem vários conceitos que revelam uma ideologia, uma forma de viver.
Isso é bastante interessante porque ideologia é definida como “conceito da formação das ideias”, mas na prática acaba sendo um sistema de ideias e convicções sobre os quais a pessoa constrói seu comportamento. Aí deixa de ser um conceito para ser um estilo de vida. Ninguém é o que é por si mesmo. Há alguma força externa operante induzindo a pessoa a pensar e a agir de determinada forma, seja da família, da religião, da sociedade, dos amigos ou alguma outra fonte. Existe um conceito ideológico presente – claramente definido ou oculto – sendo transmitido todas as vezes que alguém liga a tv, lê uma notícia, assiste a um filme ou série ou vê uma propaganda. Não existe neutralidade.
Nesse sentido, uma ideologia pode ser usada como instrumento de dominação que age por meio do convencimento e não por força física. É por isso que existe ideologia comunista, conservadora, capitalista, moralista e uma série de outras. O que há em comum em todas elas é o envolvimento do coração. Pessoas são capazes de viver, lutar, matar e morrer por uma causa ideológica. Um exemplo disso é a pauta abortista: pessoas foram às ruas celebrar a lei em países que aprovaram a legitimação da prática. Nem todos que estão ali praticarão o aborto, mas a ideia é celebrar a vitória da sua ideologia em relação às demais. Literalmente, pode-se matar ou morrer. Tudo depende do envolvimento do coração.
O debate, então, passa a girar em outro ponto: a questão não é a ideologia em si, mas sim aquela que desconstrói os pilares da sociedade, da convivência, da civilidade e dos valores cristãos firmemente estabelecidos na Bíblia pela sábia determinação de Deus para o bem do ser humano. A “sabedoria” deste mundo, porém, considera os valores cristãos ultrapassados e não é irreal pensar que usará meios de convencimento, coerção, propaganda e imposição de novos valores para o estabelecimento de uma nova moralidade. Ou o evangelho de Cristo ou as ideologias deste mundo estarão no centro formador da moralidade e crença.
O evangelho de Jesus Cristo expressa um sistema de fé e valores que chamam para um compromisso de coração e alma. Se, por um lado, a teologia do evangelho filtra as ideologias deste mundo, por outro lado declara que somente a Palavra de Deus é suficiente para regular o estilo de vida que agrada a Deus. Ela é o referencial seguro em meio a sistemas de pensamentos confusos e conflitantes.
Amar a Deus de todo coração, de toda alma, de todo entendimento, de toda força e amar o próximo como a si mesmo (Mc 12.30 e 31) não são apenas princípios cristãos, mas, também, um estilo de vida pelo qual vale a pena viver.
- Rev. Onildo de Moraes Rezende (Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento)