Todo jalesense que eu conheço é bairrista. Pode estar fora da cidade natal há mais de 20 anos, como eu, mas quando se refere ao local, enche a boca e diz “a minha cidade”.
Não conheci jalesense que tivesse vergonha de falar de onde veio. No lugar mais remoto do mundo, o indivíduo pode até cochichar “Sou de uma cidadezinha do interior de São Paulo”, mas quando vai mencionar o nome de Jales, os olhos até brilham.
Jalesense faz festa quando se encontra na cidade, mas especialmente quando se reúne fora dela. Encontro de jalesense no metrô de São Paulo, nas calçadas do Rio de Janeiro ou em um táxi em Nova York é sempre motivo de alegria.
Sei que não deve acontecer com todos. Mas é, sim, o caso da maioria que conheço. Pessoas que tiveram a felicidade de curtir a cidade, suas praças, seus clubes, seus trailers de lanhes. As escolas de samba, o Clube Atlético Jalesense, o basquete do Clube do Ipê e os times que se seguiram, na mesma modalidade, em nível nacional.
Moradores e visitantes que tiveram a sorte de pular carnaval com Jair Supercap Show, participar do Pipocão, dos jogos de futebol de salão nas quadras do Euphly ou no Ginásio de Esportes, da Facip e seus muitos shows, além da Feira da Uva e do Mel. Gente que cresceu com a romaria diocesana e nos almoços de domingo no Lar Transitório ou na Apae.
Um povo bom, ordeiro, cheio de ideias, guerreiro. Que ganhou uma instituição de ensino superior primeiro do que muitas outras cidades maiores da região. Que foi escolhido para ter Polícia Federal, Justiça do Trabalho, Hospital do Amor entre tantos outros municípios.
Muitos não têm a felicidade de voltar com frequência a Jales, como eu tenho. E confesso que a cada vez, fico mais encantada. Muito bom ver lideranças jovens reerguendo o Clube do Ipê. Empresários apostando em novidades como os cafés com grife ou sorveterias requintadas e pizzarias modernas. Jovens que trocaram as fazendas pelo empreendimento imobiliário e têm construído prédios modernos e bairros aconchegantes.
Claro que nem tudo são flores. Há notícias muito preocupantes, especialmente sobre desemprego e ausência de políticas públicas que amenizem os problemas de grupos minoritários. Jales não é um oásis no deserto. É uma cidade como o resto do país, que amarga uma economia difícil, uma desigualdade absurda e uma miséria que dói em quem tem consciência.
Por isso, nesse aniversário da cidade, a pergunta que todo cidadão pode se fazer é: qual o presente eu, como cidadão, devo dar a Jales?
- Ayne Regina Gonçalves Salviano (É jalesense. Jornalista com mestrado em Comunicação e Semiótica. Professora especializada em Metodologia Didática. Franqueada da Damásio Educacional em Araçatuba e Birigui)