Segundo a historiadora Emilia Viotti da Costa “um povo sem memória é um povo sem história; e um povo sem história está fadado a cometer os mesmos erros do passado”. Pode-se aplicar essa perspectiva da historiadora sobre a problemática da desvalorização das culturas indígenas, pois a sociedade brasileira, ao ignorar esforços para a preservação das identidades originárias do Brasil e, portanto, negligenciar a memória da própria nação, está sujeita a perpetuar práticas equivocadas, como a violência aos povos indígenas e a manutenção de visões preconceituosas sobre esses. Assim, cabe a análise sobre os agentes da destruição dessa cultura, bem como os efeitos advindos de um ponto de vista unilateral e equivocado sobre os povos nativos brasileiros.
Primeiramente, cabe relembrar, como símbolo histórico da colonização e responsável pelos primeiros sinais do apagamento da cultura indígena, a sangrenta história do Bandeirismo. Esse movimento de expedições ao interior do País ocorreu entre os séculos XVII e XVIII e possuía, entre os principais objetivos, o aprisionamento de indígenas, destruição de quilombos e busca por metais preciosos. Nesse ínterim, as Bandeiras provocaram o extermínio de comunidades indígenas e seus territórios, realidade atroz que ainda ocorre e pode ser verificada a partir das invasões de garimpeiros às reservas habitadas pelos Yanomami – fato lamentável para a manutenção da memória e existência das populações nativas. Dessa forma, o Bandeirismo e o garimpo invasivo representam, respectivamente, causa histórica e sua repercussão na contemporaneidade em relação à exploração de terras indígenas, o que acarretam a violência a essa comunidade e o desaparecimento de sua rica cultura material e imaterial.
Além disso, ressalta-se que a ideia difundida na sociedade brasileira sobre as identidades nativas é reflexo de uma história elaborada por pessoas não indígenas a partir das suas próprias intolerâncias sobre a questão. Assim, pode-se referenciar a palestra “O perigo de uma história única”, da escritora nigeriana, Chimamanda Adichie, a qual demonstra a problemática das narrativas criadas por pessoas brancas – especialmente as mais influentes – acerca de populações minoritárias, o que contribui para a disseminação de generalizações preconceituosas e prejudiciais à preservação da cultura original desses povos. Nesse sentido, pode-se afirmar que as identidades indígenas são apagadas pela propagação de uma perspectiva unilateral branca sobre essas comunidades, o que impede que as minorias afetadas tenham vez e voz para apresentar sua própria versão da história e manter sua cultura viva.
Portanto, evidencia-se que a inaceitável invasão de terras já habitadas por pessoas nativas, comportamento destrutivo semelhante aos movimentos das Bandeiras, bem como a perspectiva intolerante da sociedade sobre grupos indígenas provocam o apagamento da cultura dos aborígenes. Assim, para reverter a situação descrita por Emília Viotti da Costa, é indispensável que a memória e a vida dos povos nativos sejam preservadas, o que será alcançado principalmente pelo respeito aos seus saberes e modos de vida. Para isso, é preciso proteger as reservas indígenas, além de abrir espaços nos meios midiáticos para que os representantes de tais etnias se manifestem para terem seus interesses garantidos.
Ana Júlia S. Fiochi
(Aluna do Curso de Redação Professor Marcondes/2023)