Ao começarmos a tratar sobre os fundamentos que sustentam uma visão articulada do mundo é preciso considerar que a doutrina da criação não é abraçada simplesmente para refutar a teoria da evolução, mas para estabelecer o fato de que ela revela o poder criativo de Deus, além de dar forma às respostas que buscamos quando perguntamos: “O que está errado?” e “qual a solução?”, pois, como vimos anteriormente, toda estrutura de uma ideologia ou conceito começa com a criação, que é a representação do ideal perfeito, ou seja, aquilo que deveria ser e não é.
A descrição bíblica da criação revela que Deus está satisfeito com o que criou. A expressão “e viu Deus que era bom” é repetida algumas vezes para enfatizar o seu agir criativo que revelam a complexidade, a variedade e a perfeição do que criou como expressão da sua vontade. Além do mais, a ordem dada ao casal no jardim do Éden de sujeitar, dominar, cultivar e guardar o jardim significa que a criação tinha potencial de desenvolvimento inimaginável, à medida que o homem usasse os meios recebidos na criação para o bem da humanidade. Isso é o que chamamos de mandato cultural, ou seja, a ordem divina dada ao ser humano para preservar, explorar e desenvolver as coisas criadas a partir do ponto onde Deus parou. Na criação Deus é soberano; mas ele entregou a nós a tarefa de estender a criação a fim de que a sociedade seja beneficiada. Assim, quando estudamos para desenvolver o potencial criativo, quando estabelecemos justiça e leis para uma boa governança ou quando inventamos ferramentas, remédios, bons livros e boas músicas, estamos desenvolvendo o mandato cultural.
O entendimento dessa doutrina bíblica proporciona alguns pontos importantes a serem observados. Um deles é que a natureza é reveladora no sentido de cumprir uma função didática em apontar para algo. Ela revela a glória de Deus (Salmos 19.1-4), a existência de Deus (Romanos 1.19,20), a sabedoria divina (Salmos 104.24), o amor de Deus (1 Timóteo 4.4) e o poder soberano (Salmos 33.6-9). Além disso, a Bíblia mostra que Deus é o Senhor de toda a criação e não só de parte dela. Isso é importante porque a concepção deísta ensina que Deus criou todas as coisas, estabeleceu ordens naturais e depois se ausentou dela. Nesse caso, a criação seria autônoma e poderia “funcionar” sem a providência divina. Ao contrário, a ideia teísta propõe a concepção de que Deus ainda está presente no sentido de sustentar a criação, delimitando termos e abrangências para levar a bom fim o que tem decretado acerca da vida humana sobre a terra.
Mas o ponto principal a ser observado quando falamos sobre a criação é o entendimento de que fomos criados para glorificar a Deus em qualquer área da vida. Não há descoberta existencial mais sublime que esta: saber que nossa vida não é um acidente, um projeto fracassado, mas um projeto criativo divino que obedece a um propósito específico estabelecido pelo Criador para que, ao adorá-lo, nós possamos experimentar alegria de viver e olhar para cada área da vida como expressão da bondade de Deus que nos criou para ter prazer nele mesmo. Somos chamados para glorificar a Deus com a nossa vida, profissão, bens, dons, capacidades e com tudo o que há em nós.
Tudo isso é muito bom e parece simples. Mas, há algo que bagunça tudo e deixa a vida em confusão. No próximo artigo falarei sobre isso. Até lá, se Deus quiser.
Rev. Onildo de Moraes Rezende
(Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento)