Na história da humanidade, nunca uma droga foi tão glamourizada a ponto de permear a cultura, a filosofia e a arte. Desde a antiguidade o tabaco já era utilizado pelos povos maias, astecas e incas para celebrar suas colheitas em cerimônias públicas, rituais religiosos e para fins medicinais.
Somente no século XIX pesquisas mais robustas destacaram os malefícios do cigarro, principalmente a associação com câncer. O tabagismo é a maior causa evitável de doença e morte no mundo. O cigarro é uma poção com mais de 7 mil produtos tóxicos.
Que o cigarro faz mal à saúde todos sabem, porém poucos, antes de sentir na pele, sabem qual o real efeito. No Brasil morreram 156 mil pessoas a cada ano por doenças associadas ao tabaco. O tabaco causa mais mortes por ano que a soma das mortes por HIV, uso de drogas ilícitas, abuso de álcool, acidentes de trânsito e homicídios.
Estima-se que 90% de todas as mortes por câncer de pulmão em homens e 80% nas mulheres sejam causadas pelo tabaco. Além do câncer de pulmão, outros 14 tipos de câncer estão associados ao tabagismo: nasofaríngeo, esôfago, estômago, colorretal, pâncreas, fígado e vias biliares, rim/ureter, bexiga, colo de útero, leucemia mieloide aguda.
Doenças respiratórias como a DPOC tem o tabagismo como causa dominante entre homens e mulheres e na asma é um importante fator de risco de exacerbações com menor chance de resposta ao tratamento.
O risco de tuberculose e a mortalidade por tuberculose são maiores nos tabagistas. O risco é maior também para as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares como infarto agudo do miocárdio, arritmias, morte súbita cardíaca, tromboembolismo pulmonar, acidente vascular cerebral (AVC), Alzheimer, entre outras.
Outras condições como periodontite crônica com perda dentária, doença inflamatória intestinal, úlcera péptica, pancreatite, osteoporose, doenças da tireoide, perda auditiva, catarata, psoríase, envelhecimento prematuro da pele entre outras estão associadas ao tabagismo.
Além de prejudicar o sistema imunológico tornando os fumantes mais vulneráveis a doenças infecciosas, o tabagismo está associado a doenças psiquiátricas e infertilidade feminina e masculina, com disfunção erétil e alteração na quantidade de sêmen e função do espermatozoide.
A indústria do cigarro, no desespero com a tendência a diminuição do tabagismo, fez uma jogada de mestre e lançou um dispositivo considerado inofensivo à saúde e que ainda ajuda na cessação do tabagismo convencional: os cigarros eletrônicos. Mas hoje sabemos que esse tipo de cigarro contém mais de 2 mil substâncias sendo muitas cancerígenas. Além disso, os cigarros eletrônicos contêm um tipo de nicotina chamada supernicotina que provoca dependência mais rápida que o cigarro convencional.
As graves consequências do uso de cigarro eletrônico podem aparecer muito mais cedo que as do cigarro convencional, como a EVALI (E-cigarette or Vaping product use Associated Lung Injury), injúria pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos.
Segundo dados do CDC-EUA (Center for disease control and prevention), até abril de 2020 a EVALI causou 68 óbitos nos EUA, sendo a maioria jovens com idade inferior a 25 anos. Portanto não existe cigarro seguro que não cause riscos ao organismo.
A nicotina presente no cigarro é uma substância psicoativa estimulante com grande poder de causar dependência, porém existem diversas medidas que podem ajudar no processo de cessação do tabagismo, incluindo medidas farmacológicas. A ajuda de médicos, psicólogos, enfermeiros, nutricionistas é fundamental nesse processo.
O tabagismo traz consequências drásticas para o indivíduo, sua família e até para o país quando um trabalhador é retirado do mercado de trabalho por afastamento por doenças associadas ao tabagismo e outro por necessidade de cuidar de um doente pelo tabagismo. Cessar o tabagismo não é tarefa fácil, mas também não é impossível! Procure ajuda e viva melhor!
- Bárbara Gonçales Olivo (Médica pneumologista na Clínica Equilibrium)