Se Jales fosse um time grande e Deonel Rosa Júnior um jogador profissional, a maior transação da nossa história teria sido a sua contratação. Eu não sei quanto tínhamos em caixa quando compramos o seu passe junto ao time de Olímpia. Também não consigo imaginar o que ele, com 20 anos de idade, viu de interessante naquela jovem cidade que ainda asfaltava as suas primeiras ruas. O fato é que há meio século o Deonel é nosso.

Deonel Rosa Júnior é o nosso embaixador, o nosso procurador, timoneiro e protetor. Que me desculpem os vivos e os mortos, mas, qual político foi mais influente ou responsável pelo que podemos dizer que a cidade conquistou nesses últimos 50 anos? Em todas as áreas da coisa pública vemos a marca da sua mão. É o incansável guerreiro que às vezes carrega o piano e o time nas costas. E sempre foi assim. Desde o início do primeiro tempo.

Deonel chegou a Jales com a Primavera de Tim Maia, que ele não se cansava de repetir, todas as manhãs, no seu programa pela Rádio Cultura. Um ano depois, era Construção, 6 minutos e meio de Chico Buarque, que ele tocava todos os dias enquanto minha mãe preparava o almoço. Mas isso é como se a gente estivesse ouvindo um jogo pelas ondas do rádio. A primeira vez que eu o vi em campo, pessoalmente, foi em 1971, quando Vinícius de Moraes veio a Jales, e ele, Deonel, foi escalado para recepcionar o poeta na rua, em frente à Faculdade. Naquela tarde memorável, Deonel marcou um gol de placa ao convencer Toquinho, Vinícius, Marília Medalha e Trio Mocotó a se recolherem na casa do Dr. Eduardo Ferraz ao invés de se arriscarem nos nossos hotéis tão precários. Dois anos depois foi a vez dele levar Martinho da Vila pelo braço numa noitada que terminou no bar do Olícis, quando o sol já nascia e as garrafas estavam todas vazias!. E assim tem sido, e assim será até o ultimo minuto da prorrogação. Quando um governador, um presidente da República ou outra personalidade vem a Jales, Deonel é o escolhido para falar por Jales e região. É ele o mestre de cerimônia no lançamento de qualquer coisa, seja uma máquina, um livro ou um projeto. Deonel fala de improviso, com desenvoltura e conhecimento de causa. Depois, durante a recepção, poderemos ouvir, de graça, a sua risada sincera, ou assistir ao milagre com que ele multiplica um minuto de atenção para distribuir aos presentes.

Eu não sei como Olímpia se vira sem o Deonel. Aliás, não sei como as demais cidades se viram sem ele. De um jeito ou de outro, devem se virar. Afinal, as pessoas não se viram a noite toda na cama atrás de uma coisa que parece simples: dormir?  Neste domingo, Deonel faz aniversário. Há 50 anos eu sei disso. Desde aquele churrasquinho no quintal da primeira redação do Jornal de Jales, na Rua Onze, que terminou nas escadarias do Clube do Ypê. Era a madrugada de 9 de janeiro de 1973.

  • Luiz Carlos Seixas (escritor, instrumentista e compositor)

Comments are closed.