É cada vez mais frequente a preocupação com os rumos do comportamento performático das crianças, adolescentes e adultos, visualizado no nosso meio. Em filosofia, de acordo com Luc Ferry, indivíduo performático é aquele que tem suas atitudes e pensamentos norteados por uma sociedade preocupada demais com a “performance” do sucesso e validação do seu ego desejante. Aquele preocupado de impressionar aos outros para poder se sentir importante.
Atravessamos períodos caóticos na família, instituições e sociedade. A família, por sua vez, se encontra insegura, as instituições fragilizadas e a sociedade contemporânea inteiramente permissiva. O não perdeu o lugar. O sim parece ser a regra para a vida fictícia, irreal e insustentável.
É fato que o ser humano é produto do meio, como afirmaria o sociólogo francês Émile Durkheim, mas esse homem não cumpre à risca as regras impostas pela sociedade, assim, de maneira ousada, age de acordo com seu próprio interesse, sem que isso seja considerado liberdade. O “sim, nós podemos” parece ser o mantra do positivismo tóxico.
Diante de enormes desafios com a formação dos filhos, muitos pais não sabem o que fazer e tampouco como fazer para deixá-los saudáveis para enfrentar as lutas do século 21 de maneira amadurecida e autônoma. Muitos pais não conseguem assumir o fato de dizer não aos filhos e serem odiados, mesmo que temporariamente. Muitos ainda não se deram conta que ser pai ou mãe é assumir responsabilidades, direção e rotas.
Na era da positividade tóxica e patológica, os pais esquecem que o afrouxamento das regras, limites e o pouco vínculo afetivo custarão futuros transtornos, ansiedades, angústias e sentimento de desamparo, os quais são, muitas vezes, insuperáveis para a futura geração. Os pais infantilizados, posto que são inseguros, geram filhos que se recusam a crescer. O processo do amadurecimento é sim angustiante, mas nem por isso é ruim. Amadurecer, dentre outras coisas, significa ouvir “não” e suportá-lo. Desconfortar- se, ter certeza que você existe e que há desejos e realizações que são reais e legítimas.
Dizer não é necessário, se houver o encorajamento e formação por parte dos pais, para uma mudança estrutural nos paradigmas da Educação dos filhos, ainda haverá esperança. Segundo a chefe do Unicef, Henrietta Fore, existe sim uma razão para o otimismo: as crianças e os jovens se recusam a ver o mundo por meio de uma lente derrotista como os adultos. Os jovens são parte da solução dos problemas do mundo, entretanto, precisam ser preparados para isso. Essa é a tarefa dos pais, negligenciar tal tarefa será nos condenar ao padecimento.

  • Jane Maiolo (Gestora de Educação Infantil, professora, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Psicanalista clínica, pesquisadora dos textos do Evangelho. Articulista de jornais, revista e periódicos. Janemaiolo14@hotmail.com)

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